Um provérbio popular diz que “quem semeia ventos, colhe tempestade”, e há a sua razão de ser. Na verdade, esse ensinamento está na Bíblia. O profeta Oseias alertou o povo, quando este praticava a idolatria, para a invasão dos assírios por volta do ano 732 aC., que levou as tribos de Israel para o exílio.
“Visto que semearam ventos, colherão tempestades, não terão sequer uma espiga, e o grão não dará farinha; e, mesmo que a desse, seria comida pelos estrangeiros.” (Os 8,7)
Nós podemos semear o que quisermos, mas teremos, obrigatoriamente, de colher o fruto do que semeamos.
São Paulo alertou os gálatas: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba. O que o homem semeia, isso mesmo colherá. Quem semeia na carne, da carne colherá a corrupção; quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos. Por isso, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos os homens, mas particularmente aos irmãos na fé.” (Gal 6,7-10)
Podemos semear coisas boas e ruins por pensamentos, palavras e obras. A Palavra de Deus nos alerta muito sobre isso.
“Não semearás a difamação no meio de teu povo, nem te apresentarás como testemunha contra a vida do teu próximo.” (Lv 19,16).
Quando alguém diz o que não deve, escuta o que não quer. Quando ofende alguém, logo recebe o troco. É melhor pensar antes o que devemos falar. “Em boca fechada não entra mosca”.
Jesus nos alerta severamente sobre as nossas palavras lançadas ao vento: “Eu vos digo, no dia do juízo, os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado”(Mt 12,36).
E São Paulo disse aos efésios: “Nenhuma palavra má saia de vossas bocas, mas só boas palavras que sirvam para edificação e que sejam benfazejas aos que a ouvem” (Ef. 4,29).
São Tiago chega a dizer que “se alguém não cair por palavras, este é um homem perfeito, capaz de refrear todo o seu corpo. Quando pomos o freio na boca do cavalo, para que nos obedeça, governamos também todo o seu corpo. Vede também os navios, por grandes que sejam e embora agitados por ventos impetuosos, são governados por um pequeno leme à vontade do piloto”.
Os frutos que colhemos são consequência dos nossos atos, pensamentos e palavras que semeamos. São Paulo pergunta aos romanos e a nós hoje:
“Que frutos produzíeis, então? Frutos dos quais agora vos envergonhais. O fim deles é a morte. Mas agora, libertos do pecado e feitos servos de Deus, tendes por fruto a santidade; e o termo é a vida eterna, porque o salário do pecado é a morte, enquanto o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rom 6,21-23).
Precisamos vigiar muito os nossos pensamentos, porque eles preparam as nossas ações. É preciso guardar o coração. Jesus disse que “é do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e loucura” (Mc 7, 21).
Ensina-nos a sabedoria do Eclesiástico: “Feliz o homem que não pecou por palavras” (Eclo14,1).
“Muitos homens morreram pela espada, mas não tanto quantos morreram pela língua” (Eclo 28,22). O provérbio popular diz que “o peixe morre pela boca”. Então, é preciso vigiar nossa língua e nossos pensamentos para que não gerem maus atos. “Dirão os meus lábios palavras de sabedoria, e o meu coração meditará pensamentos profundos.” (Salmo 48,4)
“Os pensamentos dos justos são cheios de retidão; as tramas dos perversos são cheias de dolo.” (Pr 12, 5)
São Paulo insiste com os filipenses: “Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos”. (Fil 4,8).
Nossos pensamentos e ações nem sempre são os de Deus:
“Pois meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor; mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos” (Isaías 55,8-9). Portanto, cabe a nós semearmos “boas sementes”, não como aquele joio inócuo que o inimigo lançou no meio do trigo para confundir. Devemos semear o amor de Deus e boa Palavra do Senhor:
“Tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não volvem sem ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade e cumprido sua missão” (Isaías 55,10-11).
Jesus disse que aquele semeador da parábola lançou quatro tipos de sementes, mas apenas uma vingou, porque as três primeiras caíram à beira do caminho, nas pedras, e nos espinheiros e não deram fruto, mas uma caiu em terra boa e deu muitos frutos. (Mateus 13, 4ss).
Então, além de semear boas sementes, devemos preparar e escolher os bons terrenos nas almas, para que deem frutos. Não jogar a boa semente de qualquer jeito; “não dar pérolas aos porcos”, disse Jesus. E ele compara a nossa vida a uma sementeira:
“Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto” (Jo 12,24-26).
Vivendo com Deus e para Deus, morrendo para nós mesmos, é que faremos a boa sementeira de nossa própria vida e daremos bons frutos para Deus e para os irmãos.
Canção Nova
Quarta-feira 7 de agosto, depois da pausa do mês de julho, recomeçam as audiências gerais do Papa: será a 280ª catequese de Francisco, considerando também as audiências jubilares realizadas nos sábados por ocasião do Ano Santo da Misericórdia. A audiência geral é um importante encontro semanal juntamente com o Angelus e as homilias das missas na capela da Casa Santa Marta, além das celebrações do ano litúrgico, e representam o coração espiritual do seu magistério petrino. São encontros com pessoas provenientes de todo o mundo, mesmo não católicos, que dão ocasião ao Papa para fazer uma simples, mas profunda catequese sobre a fé cristã. Trata-se de reflexões ricas de espiritualidade que vale a pena ler ou ouvir novamente de modo integral, recorrendo às fontes vaticanas. Nesses encontros do Papa nunca falta o abraço prolongado aos doentes.
Portanto até agora, o Papa Francisco realizou 279 catequeses. Os temas escolhidos dão uma indicação do caminho da Igreja nestes anos. Desde 2013 foram feitos 12 ciclos de catequeses, além das audiências dedicadas a assuntos específicos como o Advento, o Natal, a Quaresma e a Páscoa: em junho deste ano iniciou o 13º ciclo. Francisco retomou as catequeses do Ano da Fé propostas por Bento XVI, detendo-se no Credo, ao qual dedicou 25 audiências. Os outros 12 ciclos foram: os Sacramentos (9), os Dons do Espírito Santo (7), a Igreja (15), A família (36), a Misericórdia, por ocasião do Jubileu (49), a Esperança cristã (38), a Santa Missa (15), o Batismo (6), a Confirmação (3), os Mandamentos (17), a oração do Pai Nosso (16), os Atos dos Apóstolos (até agora 4).
Em 27 de março de 2013, Francisco dedicou a primeira catequese do Pontificado à Semana Santa explicando que viver como ressuscitados significa seguir Jesus no seu caminho da Cruz à Ressurreição para entrar cada vez mais na lógica de Deus: isso exige “sairmos de nós mesmos, de um modo de viver a fé cansado e rotineiro, da tentação de nos fecharmos nos nossos esquemas, que acabam por fechar o horizonte da obra criativa de Deus. Deus saiu de si mesmo para vir ao meio de nós… para nos trazer a sua misericórdia que salva e dá esperança. Também nós, se quisermos segui-lo… não devemos contentar-nos em permanecer no recinto das noventa e nove ovelhas, mas temos que ‘sair’, procurar com Ele a ovelha tresmalhada, a mais distante…. Recordem bem. Deus pensa sempre com misericórdia: é o Pai misericordioso!”.
No primeiro ciclo de catequese dedicado ao Ano da Fé, o Papa afirma que a Morte e a Ressurreição de Jesus são “o coração da nossa esperança”. Infelizmente – sublinha – “muitas vezes procura-se obscurar a fé na Ressurreição de Jesus, e mesmo entre os próprios crentes foram insinuadas dúvidas” por “uma visão apenas horizontal da vida. Mas é justamente a Ressurreição que nos abre à esperança maior, porque abre a nossa vida e a vida do mundo ao futuro eterno de Deus, à felicidade plena, à certeza de que o mal, o pecado, a morte podem ser vencidos. E isso leva a viver com mais confiança as realidades cotidianas… A Ressurreição de Cristo é a nossa força… é o tesouro mais precioso! Como não compartilhar este tesouro com os outros?”.
Os Sacramentos não são ritos formais – recorda o Papa nestas catequeses – mas atos que mudam a nossa vida. A partir do Batismo, que liberta do pecado original e “toca a nossa existência em profundidade” porque nos mergulha “naquela fonte inexaurível de vida que é a morte de Jesus, o maior ato de amor de toda a história; e graças a este amor podemos viver uma nova vida, não mais à mercê do mal, do pecado e da morte, mas na comunhão com Deus e com os irmãos”.
Os Dons do Espírito Santo são o centro do terceiro ciclo de catequeses: “O Espírito Santo – sublinha Francisco – constitui a alma, a linfa vital da Igreja e de cada cristão: é o Amor de Deus que faz do nosso coração a sua morada e entra em comunhão com cada um de nós. O Espírito Santo – sublinha Francisco – é o dom de Deus por excelência… e por sua vez, transmite vários dons espirituais a quantos o acolhem. A Igreja identifica sete, número que simbolicamente significa plenitude, totalidade” e nos fazem viver e ver o mundo com o coração de Deus.
Depois o Papa passou às reflexões sobre a Igreja: “Ser Igreja é se sentir nas mãos de Deus, que é Pai e nos ama” e quis “formar um povo abençoado pelo seu amor… que leve a sua bênção a todos os povos da terra”. Recorda as palavras de Bento XVI quando falava do “nós” eclesial: fazer parte da Igreja significa pertencer a este povo, “não vivemos isolados e não somos cristãos a título individual, cada qual por sua própria conta, não… Na Igreja não existe ‘personalizações’, não existem ‘jogadores livres’. De fato, alguns pensam que podem manter uma relação pessoal… com Jesus Cristo fora da comunhão e da mediação da Igreja. São tentações perigosas e prejudiciais”.
As catequeses sobre a família, que se deram entre os dois Sínodos sobre este tema, detêm-se sobre vários aspectos da vida familiar. Francisco reitera as verdades fundamentais do Matrimônio: a indissolubilidade, a unidade, a fidelidade e a abertura à vida. Ao mesmo tempo olha com misericórdia às famílias feridas.
O ciclo mais longo de catequeses é dedicado ao Ano Santo da Misericórdia. O conteúdo essencial do Evangelho – afirma o Papa – é Jesus, “a Misericórdia feita carne, que torna visível aos nossos olhos o grande mistério do Amor trinitário de Deus”. Eis o convite de Francisco: “A Igreja aprenda a escolher unicamente o que mais agrada a Deus” que é “perdoar os seus filhos, ter misericórdia deles a fim de que, por sua vez, também eles possam perdoar os irmãos, resplandecendo como tochas da misericórdia de Deus no mundo. É isto que mais agrada a Deus!”.
O segundo ciclo mais longo é o da esperança cristã. “O otimismo desilude – explica o Papa – a esperança não! Precisamos muito dela nesta época que parece obscura, na qual às vezes nos sentimos perdidos diante do mal e da violência que nos circundam, perante a dor de tantos irmãos. É necessária a esperança!” que é crer que Deus com o seu amor caminha conosco e não nos deixa sozinhos: “O Senhor Jesus venceu o mal, abrindo-nos a senda da vida… Esperemos confiantes na vinda do Senhor, e qualquer que seja o deserto das nossas vidas…tornar-se á um jardim de flores. A esperança não desilude!”.
Em outro ciclo de catequeses o Papa Francisco explica o significado da Santa Missa. Recorda que muitos cristãos, “em dois mil anos de história, resistiram até á morte para defender a Eucaristia”. E ainda hoje, são muitos os que “arriscam a vida para participar da Missa dominical… se não pudéssemos celebrar a Eucaristia… a nossa vida cristã morreria”. De fato, é o mistério central da salvação: “Todas as vezes que celebramos este sacramento participamos do mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo” que derrama “sobre nós toda a sua misericórdia e o seu amor, para assim renovar o nosso coração, a nossa existência e o nosso próprio modo de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos” fazendo-nos prelibar “desde já a plena comunhão com o Pai, que caracterizará o banquete celestial, onde juntamente com todos os Santos teremos a felicidade de contemplar Deus face a face”.
No ciclo sobre o Pai-Nosso, o Papa convida a jamais deixar de pedir a Jesus “Senhor, ensina-me a rezar”. O primeiro passo para rezar é sermos humildes, reconhecer que somos pecadores. Deus escuta a oração do humilde. O Papa faz um esclarecimento: “Nenhum de nós é obrigado a aceitar a teoria que no passado alguém propôs, isto é, que a oração de pedido seja uma forma tíbia da fé, enquanto que a oração mais autêntica seria o louvor puro, aquele que procura Deus sem o peso de pedido algum. Não, isto não é verdade. A prece de pedido é autêntica… é um ato de fé em Deus que é Pai, que é bom… Ele nos entende e nos ama muito” O terço é a oração que Francisco pede a todos para rezar todos os dias, também para rejeitar os ataques do diabo à Igreja.
O último ciclo de catequeses que o Papa iniciou refere-se aos Atos dos Apóstolos: um livro que fala “da viagem do Evangelho no mundo e mostra-nos a maravilhosa ligação entre a Palavra de Deus e o Espírito Santo que inaugura o tempo da evangelização.
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