“Pai nosso que estais no céu… perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido”.
Imagine que, ao rezarmos o Pai-nosso, pedimos para que Deus nos trate exatamente como tratamos o outro, pedimos para que Ele nos perdoe como perdoamos os outros.
Alguém pode dizer que “Deus é misericórdia, e vai me perdoar mesmo eu não perdoando, porque Ele sabe que sou fraco e não consigo”. Nesse caso, colocamos a Misericórdia de Deus em oposição à Sua Justiça. Seria pôr Deus contra Ele mesmo. Isso, infelizmente, não é possível. Nós, seres humanos, somos um todo, que vive de modo fragmentado. Não somos obrigados a ser assim, mas infelizmente é como a maioria hoje se comporta. Queremos agir do modo mais fácil e prazeroso, sem ter consequências ou armamos contradições assim, desde que nos beneficie. É exatamente isso que fazemos, ao querermos permanecer no erro, fazendo tudo o que não agrada a Deus, e, ao mesmo tempo, esperando d’Ele todo amor que queira. Queremos continuar maus, achando-nos merecedores de bens.
Não perdoar nem alimentar a mágoa e o ressentimento cortam a relação que temos com a graça de Deus
Deus não é assim. Ele não é fragmentado desse jeito. Ele nos ama sim, mas se não nos arrependermos do mau, se não voltarmos atrás, se morrermos subitamente sem tempo de arrependimento, não iremos nem para o céu e nem para o purgatório, senão somente para as penas eternas. E sabe por quê? Porque nós nos afastamos d’Ele por livre vontade e continuamos longe por meio das maldades que praticamos e não nos arrependemos.
Aqui é que entra o livre-arbítrio. Não somos controlados por Deus, mas sim livres. Se nós escolhemos nos afastar de Deus por meio do mau cometido, Ele sofrerá muitíssimo com isso, mas não deixará de respeitar a nossa liberdade de querer estar e permanecer a caminho do inferno.
Querer sempre perdoar
Falando de perdão, é fundamental deixar claro que não se trata de deixar de sentir dor para assim saber que perdoou, mas sim, se decidir em perdoar aquele que nos fez o mal, no entendimento. E isso começa a partir do momento em que rezo por quem me machucou. Sim, aqui está o caminho: rezar!
Muitas vezes, aquilo que fizeram contra nós é tão grave, foi tão dolorido, que só com a ajuda de Deus para conseguir perdoar. Sim! Isso é verdade! Mas é preciso, primeiro, entender que se não houver de nossa parte o desejo de se desvencilhar dessa mágoa, Deus permanecerá esperando, sem fazer nada para tirar a falta de perdão, por nos respeitar.
Quando rezamos, pedindo a Deus que abençoe aos que nos ofenderam, queremos que eles alcancem aquilo que há de melhor para uma pessoa: a salvação eterna. Se os sentimentos ainda se encontram feridos, comece pedindo a bênção àquele que o ofendeu. Com o tempo, Deus vai curar também as suas feridas. Isso sim será um ato de misericórdia e justiça, tanto de sua parte, quanto da parte de Deus.
Não desejemos o mal àquele que nos feriu
Muitos, infelizmente, querem que o outro sofra as consequências do mau que cometeram. Imagine se Deus nos perdoasse somente quando sofrêssemos todas as consequências do mal feito a Ele? Não caberia a nenhum ser humano suportar tanta injúria, pois o mal cometido a Deus é muito maior que o cometido a outro, pelo grau de santidade de Deus, que não merece nem o mais mínimo mal, ao contrário de nós.
“Como já dissemos, a Oração Dominical (o Pai-nosso) é recitada em nome da Igreja universal. Por onde, quem a rezar, não querendo perdoar os pecados do próximo, fica privado do fruto da oração. Mas, às vezes, certos pecadores estão dispostos a perdoar aos seus devedores: e por isso são ouvidos nas suas orações, conforme ao dito da Escritura: Perdoei ao teu próximo o mal que te fez e, então, deprecando tu, serão perdoados os teus pecados” (São Tomás de Aquino Q. 83 Art. 16).
Portanto, pare e pense bem se compensa continuar alimentando a mágoa, o desejo de vingança, e até o ódio pelo mal que nos cometeram. Imagine que Deus está disposto o tempo todo a lhe ajudar, desde que se volte, inteiramente, a Ele! Queira abandonar o mau caminho, e todo o prejuízo que você teve poderá se tornar um caminho lindo de volta a Deus, de união a Ele, de alegrias tão sublimes que nenhuma injúria lhe poderá roubar.
Radio Vaticano