A liturgia do tempo quaresmal é, sem dúvidas, dentre as liturgias celebradas no ano, a mais rica e profunda que a Santa Igreja oferta aos seus fiéis. Além disso, é o convite mais amoroso de um Deus apaixonado por Sua criação e, de modo particular, pela obra-prima da criação: o ser humano. É o Senhor nos atraindo a adentrar os santos mistérios da Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Trata-se de um período profundo para fazer de nós, homens e mulheres, profundos na espiritualidade e humanidade.
Todo e qualquer convite feito por Jesus e por Sua Igreja não é para assistirmos, como se o que estamos lendo, vendo ou celebrando só servisse para mera observância. Definitivamente, não! Em matéria de vida cristã, somos convidados ao pleno envolvimento com o Reino de Deus.
Se, na Quarta-feira de Cinzas, você entrou na fila para receber as cinzas pelas mãos de um sacerdote ou um ministro destacado por ele, além de marcar sua fronte com o sinal da cruz, você ouviu uma dessas frases: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc.1,15) ou “Lembra-te, homem, que és pó e ao pó hás de voltar” (Gn 3, 19), tanto uma quanto a outra nos chamam a relembrarmos nossa fragilidade humana e a urgência de nosso retorno à vontade de Deus.
Sim, somos comprovadamente limitados. E por maiores que sejam nossas conquistas nesta Terra é, justamente, porque temos limites que dependemos do favor divino. Deus faz uso também da generosidade humana para nos mostrar que sozinhos pouco avançamos. Você já deve, como eu, ter ouvido monsenhor Jonas dizendo: “ninguém é bom sozinho”. Que saudável limitação.
Porém, quantas vezes nos detemos em avançar quando nossas fragilidades nos confrontam? Pare um pouco para pensar se tuas fragilidades tem lhe motivado a prosseguir ou se te estagnaram. Se te estagnaram, você precisa reconsiderar o significado delas em sua vida. Porque nossas limitações existem, mas usar delas como desculpa para não evoluirmos, soa como covardia. E covardia não combina com quem se declara ser de Deus!
Certa vez, o Apóstolo Paulo identificando uma de suas fragilidades, ergueu um pedido ao Senhor: “Tirai esse espinho de minha carne. Mas o Senhor respondeu: Basta-te a Minha Graça, pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente.” (cf.2Cor.12,8-9).
Tal pedido Paulo o fez por três vezes ao Senhor e a resposta nas três vezes foi a mesma. Era Cristo fazendo seu Apóstolo enxergar que há uma força interior que nos coloca em movimento mesmo com nossas debilidades. Caro irmão, a mesma Graça que sustentou Paulo, sustentará você. Em cada um de nós existem “espinhos”, mas a dor não consegue parar os agraciados.
Quando Deus criou o homem fez uso do pó, mas introduziu Sua essência ao soprar nas narinas do homem. Isso significa que nascemos sim do pó e a ele voltaremos, mas entre o nascer dele e o voltar para ele existe um intervalo. Então, é justamente esse intervalo o período mais importante da nossa existência. É nele que decidimos quem seremos, o que faremos, se queremos ser participantes da Igreja triunfante. Esse intervalo para nós é um convite divino aguardando nossa resposta, e no vocabulário do céu ele se chama: vida no Espírito Santo!
O intervalo é o tempo mais precioso que possuímos. É ele que comprova se você está atingindo a estatura de Cristo ou não. O que você está fazendo em seu intervalo?
Temos na vida dos santos a inspiração que precisamos para buscar viver no Espírito. Encerro este artigo na certeza de que você aceitará a santa proposta de viver por Cristo, como Cristo e em Cristo para que, ao fim de sua Quaresma, no terceiro dia, ressuscite com Ele.
Canção Nova
O tríduo pascal que estamos prestes a viver foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (17/04).
Na Praça São Pedro, de modo especial o Pontífice refletiu sobre algumas palavras que Jesus dirigiu ao Pai durante a Sua Paixão. A primeira invocação foi feita depois da Última Ceia, quando disse: “Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho” e ainda “glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse”.
Pode parecer paradoxal que Jesus peça a glória ao Pai quando a Paixão está para acontecer, observou o Papa. A glória na verdade indica o revelar-se de Deus, é o sinal distintivo da sua presença salvadora entre os homens e é o que acontece na Páscoa. “Ali Deus finalmente revela a sua glória, que descobrimos ser toda amor: amor puro, louco e impensável, para além de todo limite e medida.
Portanto, nós damos glória ao Pai quando vivemos tudo o que fazemos com amor, com o nosso coração. A verdadeira glória é a do amor, porque é a única que dá vida ao mundo, e não a glória mundana, feita de aclamação e audiência. No centro não está o eu, mas o outro. Ninguém glorifica a si mesmo.
Depois da Última Ceia, Jesus entra no jardim do Getsêmani e também ali reza ao Senhor com a palavra mais tenra e doce: «Abbà», Pai (cfr Mc 14,33-36).
Por fim, Jesus dirige ao Senhor uma terceira oração por nós: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» (Lc 23,34).
Jesus reza por quem foi malvado com ele, no momento da dor mais aguda, quando recebia os pregos nos pulsos e nos pés. “Aqui, ao vértice da dor chega o amor: chega o perdão, isto é, o dom à enésima potência, que quebra o círculo do mal.
Rezando nesses dias o “Pai-Nosso” – tema neste período das catequeses –, o Papa fez votos que possamos pedir uma dessas graças: viver para a glória de Deus, isto é, com amor; que saibamos confiar no Pai nas provações; e encontrar no seu abraço o perdão e a coragem de perdoar.
Radio Vaticano