Muito tem sido feito, mas muito ainda resta por fazer: a audiência aos participantes da Conferência Internacional sobre o Tráfico de Seres Humanos foi a ocasião para o Papa Francisco agradecer-lhes e encorajá-los na luta contra esta chaga.
O encontro foi organizado pela Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, com a finalidade de criar estratégias para aplicar as Orientações Pastorais sobre o Tráfico Humano recentemente publicadas.
Prática que desumaniza
Em seu discurso, o Pontífice citou a frase do Evangelho de João, que resume a missão de Jesus Cristo: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Mas hoje, infelizmente – constatou o Papa -, o mundo é marcado por situações que impedem a missão de Jesus: uma delas é justamente o tráfico de seres humanos.
Este tipo de tráfico expõe a tendência a mercantilizar a pessoa. Mas neste fenômeno, a vítima não é só quem sofre as consequências, mas também que as provoca:
“ O tráfico, de fato, deturpa a humanidade da vítima, ofendendo a sua liberdade e dignidade. Mas, ao mesmo tempo, desumaniza quem a pratica, negando-lhe o acesso à ‘vida em abundância’. O tráfico, por fim, fere gravemente a humanidade no seu conjunto, dilacerando a família humana e o Corpo de Cristo. ”
O Papa qualificou esta chaga como uma “injustificável violação da liberdade e da dignidade das vítimas”, por isso deve ser considerada um “crime contra a humanidade”.
Traição da nossa humanidade
Em todo o seu discurso, o Pontífice não cria uma dicotomia entre algoz e sacrificado:
“Quem se mancha deste crime prejudica não somente os outros, mas também a si mesmo. Na relação que instauramos com os outros, está em jogo a nossa humanidade, aproximando-nos ou afastando-nos do modelo de ser humano desejado por Deus e revelado no Filho encarnado. Portanto, toda escolha contrária à realização do projeto de Deus é uma traição da nossa humanidade e renúncia à ‘vida em abundância’ oferecida por Jesus Cristo.”
Trabalho arriscado e anônimo
Quem trabalha para restaurar e promover a dignidade humana está em sintonia com a missão da Igreja: “A sua presença, queridos irmãos e irmãs, é sinal tangível do esforço que muitas Igrejas locais assumiram generosamente neste âmbito pastoral.”
Para Francisco, são “dignas de admiração” as iniciativas criadas para prevenir o tráfico, proteger os sobreviventes e perseguir os culpados. Um trabalho feito de forma arriscada e anônima. De modo especial, o Papa agradeceu às muitas congregações religiosas que atuaram e continuam a atuar como “vanguarda” da ação missionária da Igreja contra toda forma de tráfico.
“Muito tem sido feito, mas muito ainda resta por fazer”, encorajou o Pontífice, reiterando a necessidade de trabalhar em rede, seja em nível local, seja em nível internacional, seja com instituições eclesiásticas, seja políticas e civis.
Sob a intercessão da Santa Josefina Bakhita, Francisco concluiu invocando abundantes bênçãos sobre todos que lutam contra o tráfico de seres humanos.
Radio Vaticano