A humanidade precisa ser banhada por um novo bálsamo, o bálsamo da misericórdia, que é muito antigo, mas sempre atual. Antigo por ter suas raízes plantadas na eternidade; novo e necessário, porque a humanidade depende dessa fonte inesgotável, que é o amor de Deus. O rosto desse amor misericordioso está próximo de cada pessoa, é Jesus Cristo. Nele, o Filho de Deus, a Misericórdia Divina se torna visível, mostrando que o seu Pai é o Pai de todos, o Deus amor. Eis, pois, a direção que deve ser seguida pela humanidade, para encontrar novo rumo após tantos descasos com a vida e o planeta, a Casa Comum: a via da misericórdia.
Esse caminho está na contramão da perversidade e da indiferença. Envolvendo corações e mentes, esses males marcam os tempos atuais com os frutos da insanidade e da ignorância, insensíveis às muitas possibilidades para os avanços humanitários, sociais e políticos. A misericórdia é, assim, remédio indispensável, lição inigualável.
Quando um coração é forjado pela misericórdia, torna-se base para uma mente límpida, orientada para a fraternidade solidária, repleta de uma luz que inspira a inteligência e a sabedoria, qualidades indispensáveis em qualquer momento da história. Afinal, a desastrosa percepção dos mais diferentes processos é um tipo de cegueira que causa confusões, leva a decisões equivocadas, à falta de senso crítico sobre as próprias atitudes.
Percorrer a via da misericórdia é necessário treinamento para se conquistar a competente compreensão a respeito de si e do outro. Permite reconhecer a vida de cada pessoa como dom.
É, pois, atitude fundamental para se administrar, com equilíbrio, a própria vida. Caminho que consolida a justiça, pois conduz ao compromisso com a verdade, o bem comum, a honestidade. Quem se aproxima do amor misericordioso de Deus, revelado em Jesus Cristo, desenvolve o gosto pela honestidade, não alimenta qualquer tipo de orgulho ou ilusória concepção sobre si.
Sem a via da misericórdia, tudo se enfraquece. A religiosidade deixa de contribuir para que a sociedade alcance nova etapa de seu desenvolvimento. As famílias, que deveriam ser ambiente para muitos aprendizados, ficam desfiguradas. Buscar a misericórdia não é, pois, um passeio sem propósito. É experiência renovadora, a partir do encontro com Jesus Cristo, o rosto misericordioso de Deus-Pai. Um acontecimento capaz de corrigir muitos descompassos, a exemplo do costume de se alegrar, perversamente, com o fracasso dos outros. As lições de Jesus Cristo salvam a humanidade também de males que afligem a alma, tornando-a suscetível a sofridas depressões. Quem segue o Mestre, rosto da misericórdia divina, não desiste de viver, pois passa a reconhecer a própria existência como dom. Cultiva especial apreço à vida de todos, acima de qualquer interesse egoísta que possa levar a disputas insanas.
Nesse horizonte, compreende-se a oportunidade singular oferecida na Semana Santa: buscar a misericórdia seguindo os passos do Mestre, na Sua Paixão, Morte e Ressurreição a partir das celebrações e da escuta da Palavra de Deus. A Semana Santa condensa lições essenciais que, se aprendidas por todos, permitem o surgimento de uma humanidade nova, solidária. Jesus é único e seus ensinamentos são a verdadeira sabedoria. Todos aproveitem a chance de fixar o olhar em Cristo, para percorrer com Ele a via da misericórdia. Assim, cada pessoa tem a oportunidade de unir-se a Deus, abrir o próprio coração para o amor, que transforma, produz sabedoria, permite discernimentos e escolhas acertadas.
Os atos de Jesus são permeados de compaixão, que não pode ser confundida com fraqueza. Trata-se de corajosa fidelidade à verdade e ao bem de todos. Acolher Suas palavras, silenciar ante Seus sofrimentos e Sua morte expiatória, refletindo sobre os preciosos ensinamentos reunidos na Bíblia, a exemplo dos que estão concentrados no Sermão da Montanha, é passo importante para percorrer a via da misericórdia junto com Cristo. A humanidade precisa, com urgência, trilhar esse caminho. Seja, pois, compromisso de todos, percorrer a via da misericórdia para aproximar-se de Deus e aprender com o Seu amor.
Canção Nova
Você costuma dizer sempre ‘sim’ quando o solicitam, não por uma preocupação com o outro, mas por não saber como se expressar diante daquela pessoa? Sente-se culpado ou irritado depois disso? Quantas vezes você deixou de expressar suas dificuldades, aumentando a pressão sobre você? A verdade é necessária em qualquer relação humana. No entanto, muitas vezes, temos medo de expor nosso ponto de vista, nossa dificuldade.
Por exemplo, será que é possível ser sincero com pais, companheiros ou filhos, em todas as situações? Será que é possível viver uma relação transparente no nosso ambiente de trabalho, de estudo? Mais do que responder a essas perguntas com um ‘sim’ ou ‘não’, viver essa proposta é um desafio que pode ser extremamente edificante para qualquer um de nós.
Para auxiliar nesse desafio, talvez possamos lançar mão de algumas ferramentas, buscando conhecer nossas dificuldades. Por exemplo, existem situações em que temos dificuldade em contrariar os outros. Aceitamos as imposições, as solicitações dos outros, mas nunca falamos uma parte significativa da verdade, que, nesse caso, se refere àquilo que sentimos, que pensamos. Ignoramos a nós mesmos em função do medo de críticas, de broncas ou por medo de perder o afeto, a admiração, o respeito do outro. Essas são características que definem uma postura passiva.
Uma coisa importante para mudar essa condição é avaliar o que, realmente, valemos: Será que só somos dignos de ser amados se formos perfeitos, se não dermos margem para críticas? Deus tem paciência conosco! Será que, uma vez que temos propósitos firmes, concretos, de buscar viver segundo sua vontade, não podemos também ter paciência conosco e transferir isso para o dia a dia? E a partir daí, não mais nos culpar ou esconder nossas imperfeições, mas lidar com elas de forma clara, transparente, e procurar a correção?
Existem outras situações em que apresentamos uma postura agressiva diante de qualquer exigência ou solicitação. Falamos a nossa verdade, aquilo que sentimos ou pensamos, mas desrespeitando o outro, não levando em consideração os sentimentos ou a realidade daquele próximo. Impomos nossa vontade, nossa opinião, nossas necessidades.
Nesse momento, fechamo-nos em nós mesmos, tendo nossa visão de mundo como correta, não ouvimos o outro, e quando fazemos isso, fazemos para desqualificar o que fala ou agredi-lo com seus próprios argumentos. Às vezes, isso acontece por uma certa comodidade, que avança para arrogância, autossuficiência; outras vezes, é apenas uma outra maneira de nos defendermos das críticas. Vale a pena lembrar que não somos obrigados a dar respostas imediatas. Podemos respirar fundo, avaliar o que é dito, encarar a correção (Deus corrige a quem Ele ama), aprender com os mais simples (revelastes aos pequenos, e ocultastes aos sábios).
Existe uma terceira forma de agir, que poderíamos chamar de assertiva ou afirmativa. Nessa atitude, não negamos parte nenhuma da verdade: Nem a nossa verdade nem a verdade do outro. Não ignoramos a realidade que vive, mas também não atropelamos aquilo que o outro vive. E mesmo quando essas realidades são incompatíveis, busca-se sempre o acordo; busca-se identificar qual o compromisso viável que cada um dos dois pode firmar para que a relação cresça a partir daquela situação. É a busca por um ponto de equilíbrio.
Se você quiser se observar, a cada situação difícil que enfrentar, pergunte a si mesmo:
– Há alguma forma de falar a verdade?
– Estou respeitando a mim mesmo?
– Estou respeitando ao outro enquanto falo aquilo que é necessário?
– Se calo, faço isso por renúncia, ao invés de fazê-lo por comodidade?
– Estou colocando como prioridade o acordo, a conciliação, o crescimento mútuo, em vez de procurar me autoafirmar, provar que estou certo ou fazer prevalecer minha autoridade?
Se você for capaz de responder ‘sim’ a todas as perguntas, você está no caminho. Ser assertivo implica buscar viver bem com os outros, falando a verdade, respeitando a sua realidade, suas necessidades, por mais difícil que seja, mas sem jamais perder de vista a necessidade de respeitar o outro. Na maioria das vezes, isso pode ser vivido atento à forma como se fala com o outro. Na entonação de voz, na capacidade de olhar no olho do outro, de olhar para o outro antes de falar algo, na postura. Enfim, é hora de praticar a ternura, a caridade, a compreensão, a bondade, a brandura, a humildade. Vamos viver esse desafio: Por hoje, buscar a forma mais adequada e mais terna de falar a verdade que precisamos dizer.
Cláudia May Philippi – Psicóloga Clínica – CRP 2357/1
Kleuton Izidio Brandão e Silva – Psicólogo Clínico – CRP 6089/1
Canção Nova
Hoje, 12 de abril, é uma sexta-feira marcada pela misericórdia, uma tarde cheia de emoções, ritmada pelo abraço do Papa Francisco a pessoas que, dia após dia, perdem a memória e a vida. Neste dia especial, encaixado entre o Calvário da doença e a esperança da Páscoa, as luzes mais fortes são as que acompanham a alegre surpresa dos residentes do “Villaggio Emanuele”. Para os moradores desta estrutura residencial, que sofrem da doença neurodegenerativa de Alzheimer, que destrói a mente e as recordações, o encontro com Francisco foi revigorante. O Papa é uma nesga de luz na memória, seu rosto é familiar e está pronto para ser acolhido com um sorriso cristalino, como o de uma criança.
Na sua chegada, o Papa desceu do carro no pátio da estrutura, incrédulos, os pacientes aproximaram-se de Francisco para cumprimentá-lo e receberam uma palavra de conforto. A presença do Papa foi vivida como um verdadeiro momento de alegria. Em seguida o Papa visitou várias partes do “Villaggio”. Alguns internos, que descansavam em seus quartos, trocaram algumas frases com Francisco. Outros que se dedicavam a atividades recreativas, tentaram explicar ao Papa seus compromissos diários. No final da visita, o Santo Padre deixou de presente um pergaminho com um pensamento escrito a mão, junto com um belo quadro que representa a Natividade.
O “Villaggio Emanuele” é uma cidadezinha na periferia de Roma, dentro do Parque Sabina, que abriga 100 habitantes com 14 casinhas coloridas, uma praça com um chafariz, um bar, um restaurante, uma ludoteca. Também há serviços como cabeleireiros, academia e mini-mercado. Abriga gratuitamente pessoas com a doença de Alzheimer em fase leve e moderada e é o primeiro centro italiano dedicado às pessoas “sem memória”. É fruto de um projeto financiado pela “Fondazione Roma” e ligado a uma iniciativa sem nenhum custo por parte do Estado e outras entidades públicas. Foi criado pelo advogado Emmanuele Francesco Maria Emanuele, que se inspirou em um centro holandês perto de Amsterdã para oferecer aos doentes com Alzheimer assistência e hospitalidade em um contexto familiar. Em cada uma das unidades é garantida a presença de agentes comunitários de saúde e assistentes sociais. As casas-famílias, formadas por pequenos grupos de residentes, têm cerca de 250 metros quadrados e providas de barreiras arquitetônicas.
No dia 21 de setembro de 2016, foi celebrado o 23º Dia Mundial da Doença de Alzheimer, com o tema “Recorda-te de mim”. Na ocasião, durante a audiência geral o Papa Francisco lançou um caloroso apelo: “Convido todos os presentes a ‘recordar-se’, com a solicitude de Maria e a ternura de Jesus Misericordioso, de quantos sofrem desta enfermidade e dos seus familiares, para que sintam a nossa proximidade. Oremos também pelas pessoas que estão ao lado dos doentes, para que saibam sentir as suas necessidades, até as mais imperceptíveis, porque vistas com olhos cheios de amor”.
A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência. É uma doença degenerativa incurável. Provoca a destruição dos neurônios em algumas partes do cérebro e uma progressiva diminuição das funções cognitivas. Afeta a memória com efeitos sempre mais graves, a linguagem e o comportamento. Um diagnóstico precoce permite prevenir complicações e a aceleração da doença. No mundo, a cada 3 segundos uma pessoa desenvolve uma forma de demência. Em nível global, a demência atinge 47 milhões de pessoas.
Radio Vaticano
O Papa Francisco espera poder visitar o Sudão do Sul num futuro próximo. Ele mesmo confirmou isso, nesta quinta-feira (11/04), no discurso de conclusão de dois dias de retiro espiritual para a paz que trouxe ao Vaticano autoridades civis e eclesiásticas do Sudão do Sul.
“Confirmo o meu desejo e a minha esperança de poder ir ao vosso amado país num futuro próximo, com a graça de Deus, junto com os meus queridos irmãos aqui presentes”: entre eles, o arcebispo de Cantuária, Welby.
O Papa Francisco exortou os líderes políticos do Sudão do Sul a cumprirem o compromisso de paz que assinaram no ano passado, rezando com eles hoje após dois dias de um retiro espiritual sem precedentes no Vaticano. E acrescentou improvisando:
“A vocês três que assinaram o Acordo de Paz, peço-lhes, como irmão, que permaneçam na paz. Peco-lhes com o coração. Vamos seguir em frente. Haverá muitos problemas, mas não tenham medo, vão em frente, resolvam os problemas. Vocês iniciaram um processo: que termine bem. Haverá lutas entre vocês dois, sim. Que elas ocorram dentro do escritório; diante do povo, as mãos unidas. Assim, de simples cidadãos, vocês se tornarão Pais da Nação. Permitam-me pedir isso com o coração, com os meus sentimentos mais profundos”, disse o Papa.
No final de seu discurso de encerramento do retiro espiritual o Papa Francisco inclinou-se para beijar os pés dos líderes do país reunidos para a iniciativa de paz. O Papa beijou os pés ao presidente da República Salva Kiir Mayardit e aos vice-presidentes-designados presentes, entre os quais Riek Machar e Rebecca Nyandeng De Mabior.
No final do encontro os participantes receberam uma Bíblia assinada por Francisco, pelo arcebispo de Cantuária e pelo reverendo John Chalmers da Igreja Presbiteriana da Escócia, com a mensagem “Buscai o que une, superai o que divide”, e o Papa deu-lhes a sua bênção.
O Sudão do Sul, com uma população maioritariamente cristã, obteve a sua independência ao separar-se do Norte árabe e muçulmano em 2011, mas no final de 2013 mergulhou num conflito civil causado pela rivalidade entre o presidente, Salva Kiir, e o seu então vice-presidente, Riek Machar.
Radio Vaticano
Muito tem sido feito, mas muito ainda resta por fazer: a audiência aos participantes da Conferência Internacional sobre o Tráfico de Seres Humanos foi a ocasião para o Papa Francisco agradecer-lhes e encorajá-los na luta contra esta chaga.
O encontro foi organizado pela Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, com a finalidade de criar estratégias para aplicar as Orientações Pastorais sobre o Tráfico Humano recentemente publicadas.
Em seu discurso, o Pontífice citou a frase do Evangelho de João, que resume a missão de Jesus Cristo: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Mas hoje, infelizmente – constatou o Papa -, o mundo é marcado por situações que impedem a missão de Jesus: uma delas é justamente o tráfico de seres humanos.
Este tipo de tráfico expõe a tendência a mercantilizar a pessoa. Mas neste fenômeno, a vítima não é só quem sofre as consequências, mas também que as provoca:
O Papa qualificou esta chaga como uma “injustificável violação da liberdade e da dignidade das vítimas”, por isso deve ser considerada um “crime contra a humanidade”.
Em todo o seu discurso, o Pontífice não cria uma dicotomia entre algoz e sacrificado:
“Quem se mancha deste crime prejudica não somente os outros, mas também a si mesmo. Na relação que instauramos com os outros, está em jogo a nossa humanidade, aproximando-nos ou afastando-nos do modelo de ser humano desejado por Deus e revelado no Filho encarnado. Portanto, toda escolha contrária à realização do projeto de Deus é uma traição da nossa humanidade e renúncia à ‘vida em abundância’ oferecida por Jesus Cristo.”
Quem trabalha para restaurar e promover a dignidade humana está em sintonia com a missão da Igreja: “A sua presença, queridos irmãos e irmãs, é sinal tangível do esforço que muitas Igrejas locais assumiram generosamente neste âmbito pastoral.”
Para Francisco, são “dignas de admiração” as iniciativas criadas para prevenir o tráfico, proteger os sobreviventes e perseguir os culpados. Um trabalho feito de forma arriscada e anônima. De modo especial, o Papa agradeceu às muitas congregações religiosas que atuaram e continuam a atuar como “vanguarda” da ação missionária da Igreja contra toda forma de tráfico.
“Muito tem sido feito, mas muito ainda resta por fazer”, encorajou o Pontífice, reiterando a necessidade de trabalhar em rede, seja em nível local, seja em nível internacional, seja com instituições eclesiásticas, seja políticas e civis.
Sob a intercessão da Santa Josefina Bakhita, Francisco concluiu invocando abundantes bênçãos sobre todos que lutam contra o tráfico de seres humanos.
Radio Vaticano