Ao final da celebração eucarística deste domingo (31) que reuniu a comunidade católica do Marrocos no Centro Esportivo Príncipe Moulay Abdellah, em Rabat, o Papa Francisco usou da sua língua materna, do espanhol, para fazer um agradecimento especial, primeiro ao Senhor, que permitiu realizar a viagem apostólica ao país como “servidor da Esperança”.
O Pontífice também agradeceu o Rei Mohammed VI pelo convite, bem como as autoridades e todos que colaboraram para o bom andamento da visita, em especial, os arcebispos de Rabat e de Tanger. Uma viagem em que se pode “compartilhar, graças à fé, esperança e caridade”.
“Com esses sentimentos de gratidão, quero mais uma vez encorajá-los a perseverar no caminho do diálogo com os nossos irmãos e irmãs muçulmanos, colaborando também para que se torne visível aquela fraternidade universal que tem a sua fonte em Deus. Possam ser, aqui, os servidores da esperança, de que o mundo tanto precisa!”
Dom López Romero, arcebispo de Rabat, também fez seu agradecimento público ao Papa Francisco ao final da missa, por uma presença que “nos confirma na fé e nos encoraja na missão de construir o Reino de Deus” no Marrocos, mesmo como “uma comunidade cristã que, em sua pequenez e insignificância, quer viver o Evangelho e se tornar um Evangelho vivo para que todos possam ler”.
A visita do Pontífice, disse o arcebispo, foi uma resposta prática ao convite feito continuamente por Francisco aos cristãos para saírem às periferias. Dom López agradeceu por encontrar os irmãos migrantes, pelo apoio contínuo ao diálogo entre muçulmanos e cristãos, pelo “alimento para a nossa esperança”. E ele finalizou:
“Humildemente, nossa Igreja, e cada um de nós, queremos ser uma ponte entre muçulmanos e cristãos, entre o norte e o sul, entre a Europa e a África. Queremos ser, como vocês, os pontífices, construtores de pontes e não de muros, nem de trincheiras, nem de barreiras ou de fronteiras.”
Radio Vaticano
O ponto alto da visita do Papa Francisco ao Marrocos, em viagem apostólica dedica também ao diálogo inter-religioso, foi a missa celebrada na tarde deste domingo (31), no Centro Esportivo Príncipe Moulay Abdellah, em Rabat.
Na manhã deste domingo (31), segundo dia da visita do Papa Francisco ao Marrocos, o Pontífice foi à Catedral de Rabat, sede da Arquidiocese local para encontrar o clero, as religiosas e os religiosos e o Conselho Mundial de Igrejas. No local, depois de um breve testemunho de um sacerdote e uma religiosa seguido pela saudação de dois religiosos idosos, o Santo Padre iniciou o seu discurso aos presentes recordando que os cristãos “são em reduzido número, neste país”, e que na sua opinião isso não é um problema, embora reconheça que às vezes, para alguns, se possa tornar difícil viver.
Pensando nessa situação o Santo Padre disse:
“A nossa missão” continuou o Papa, “não é determinada pela quantidade de espaços que se ocupa, mas pela capacidade de gerar e suscitar mudança, encanto e compaixão, pelo modo como nós vivemos no meio das pessoas”.
Em seguida advertiu:
“Por conseguinte o problema não está no fato de ser pouco numerosos, mas de ser insignificantes, tornar-se sal que já não tem o sabor do Evangelho, ou uma luz que já nada ilumina”. O Papa recordou que “não podemos pensar que só seremos significativos se constituirmos a massa e ocuparmos todos os espaços”, porque a vida depende “da capacidade que temos de ‘levedar’ onde e com quem nos encontrarmos. Portanto, “ser cristão não é aderir a uma doutrina, a um templo, ou a um grupo étnico; ser cristão é um encontro. Somos cristãos, porque Alguém nos amou e veio ao nosso encontro, e não por resultados do proselitismo”.
“Cientes do contexto que sois chamados a viver”, continuou o Papa “a Igreja deve entrar em diálogo com o mundo em que vive. A Igreja faz-se palavra, faz-se mensagem, faz-se diálogo”, e entrar em diálogo “por fidelidade ao seu Senhor e Mestre, que desde o princípio, movido pelo amor, quis entrar em diálogo como amigo e convidar-vos a participar da sua amizade”, “um diálogo de salvação e amizade do qual somos os primeiros beneficiários”.
Recordando aos presentes a realidade em que vivem o Papa continuou dizendo que “nestas terras, o cristãos aprendem a ser sacramento vivo do diálogo que Deus deseja estabelecer com cada homem e mulher”, a ser feito sempre com amor “diligente e desinteressado, sem cálculos nem limites, no respeito pela liberdade das pessoas”. Deste modo, quando a Igreja “dialoga com o mundo e se faz diálogo, participa no advento da fraternidade, que tem a sua fonte profunda, não em nós, mas na Paternidade de Deus”.
“O consagrado, o sacerdote – continuou – traz ao altar, na sua oração, a vida dos seus conterrâneos mantendo viva, como se fosse uma pequena brecha naquela terra, a força vivificante do Espírito Santo”.
Francisco recordou que se trata de um diálogo que se torna oração e que podemos concretizar todos os dias em nome da fraternidade humana. “Uma oração que não discrimina, não separa nem marginaliza, mas faz-se eco da vida do próximo; oração de intercessão, que é capaz de dizer ao Pai: ‘venha a nós o vosso reino’. Não com a violência, não com o ódio, nem com a supremacia étnica, religiosa e econômica, mas com a força da compaixão espargida para todos os homens na Cruz”.
Agradecendo a Deus pelo trabalho de todos os presentes pelo diálogo, colaboração e amizade usados como instrumentos para semear futuro e esperança, o Papa disse que com isso é possível desmascarar e “pôr a descoberto todas as tentativas de usar as diferenças e a ignorância para semear medo, ódio e conflito. Porque sabemos que o medo e o ódio, alimentados e manipulados, desestabilizam e deixam espiritualmente indefesas as nossas comunidades”.
Em seguida Francisco pediu a todos para que continuem a estar próximos “daqueles que muitas vezes são deixados para trás, dos humildes e dos pobres, dos prisioneiros e dos migrantes. Que a vossa caridade se faça sempre ativa, tornando-se assim uma via de comunhão entre os cristãos de todas as confissões presentes no Marrocos: o ecumenismo da caridade”.
No final do encontro o Santo Padre rezou a oração do Angelus com os presentes, pedindo a proteção da Virgem Maria.
Radio Vaticano