“Queridos jovens sacerdotes, futuros sacerdotes, queridos penitenciários, exorto-vos a sempre ouvir com grande generosidade as confissões dos fiéis – é preciso paciência, mas sempre com o coração aberto, com espírito de pai – vos exorto a percorrer com eles o caminho da santificação que é o Sacramento. Contemplem os “milagres” de conversão que a graça opera no segredo do confessionário, milagres dos quais somente vocês e os anjos serão testemunhas. E que sobretudo vocês possam se santificar, no exercício humilde e fiel do ministério da Reconciliação”.
Palavras do Papa dirigidas aos cerca de 750 participantes do 30º Curso sobre Foro Interno -promovido pelo Tribunal da Penitenciaria Apostólica – e recebidos em audiência na Sala Paulo VI no final da manhã desta sexta-feira.
Francisco saiu do texto escrito logo no início, para explicar o real sentido da palavra “Foro interno”, que “não é uma palavra jogada ao ar, é serio!”, “é algo sagrado”. “‘Foro interno’ – insistiu – é foro interno e não pode sair para fora. E digo isto porque me dei conta que em alguns grupos na Igreja, os encarregados, os superiores – digamos assim – misturam as duas coisas e se baseiam no Foro interno para tomar decisões externas e vice-versa. Por favor, isto é pecado! É um pecado contra a dignidade da pessoa que confia no sacerdote, mostra a sua realidade para pedir o perdão e depois se usa (isso) para organizar as coisas de um grupo ou de um movimento, talvez – não sei, invento – até até mesmo de uma nova Congregação, não sei”.
A importância do “ministério da misericórdia” – observou o Santo Padre no início de seu pronunciamento – “justifica, exige e quase nos impõe uma adequada formação, para que o encontro com os fiéis que pedem o perdão de Deus seja sempre um encontro real de salvação, no qual o abraço do Senhor é percebido em toda a sua força, capaz de mudar, converter, curar e perdoar”.
O Pontífice recorda que diante da longa história da Igreja e da antiguidade da Penitenciaria Apostólica – o mais antigo Tribunal a serviço do Papa, um tribunal de misericórdia – , estes trinta anos do Curso sobre Foro Interno podem não parecer muito. Mas para nossa época, em que tudo corre velozmente, é tempo suficiente “para poder fazer reflexões e balanços”.
O número de participantes desta 30ª edição – mais de 700 – chamou a atenção de Francisco. Isto indica – observa ele – “quão séria é a necessidade de formação e segurança, em relação a matérias tão importantes para a própria vida da Igreja e para o cumprimento da missão que o Senhor Jesus a ela confiou”.
Se por um lado há uma certa dificuldade do homem contemporâneo em relação à Confissão e ao senso de pecado – e devemos reconhecer isto, diz o Papa -, “esta grande participação de sacerdotes, recém-ordenados e ordenandos, testemunha o permanente interesse em trabalhar juntos para enfrentar e superar a crise, antes de tudo com as “armas da fé” e oferecendo um serviço cada vez mais qualificado e capaz de manifestar realmente a beleza da Misericórdia divina”.
O Sacramento da Reconciliação é um verdadeiro “caminho de santificação” – enfatiza o Papa – pois “é o sinal eficaz que Jesus deixou à Igreja para que a porta da casa do Pai permanecesse sempre aberta, sendo assim sempre possível o retorno dos homens a Ele”.
A confissão é o caminho de santificação para o penitente e para o confessor, “E vocês, queridos jovens confessores, farão logo a experiência disto”, diz Francisco, explicando:
“Para o penitente, é claramente caminho de santificação porque, como repetidamente enfatizado durante o recente Jubileu da Misericórdia, a absolvição sacramental, validamente celebrada, restaura a inocência batismal, a plena comunhão com Deus. Aquela comunhão que Deus nunca interrompe com o homem, mas a qual o homem às vezes se subtrai, fazendo mal uso do estupendo dom da liberdade”.
O Papa recordou que no encontro com os sacerdotes de sua Diocese, escolheu para este ano o lema “Reconciliação, irmã do Batismo”.
Para nós, sacerdotes – explicou – o quarto sacramento também é o caminho da santificação:
“Antes de tudo quando, humildemente, como todos os pecadores, nos ajoelhamos perante o confessor e imploramos por nós mesmos a Misericórdia divina. Recordemos sempre – e isto nos ajudará tanto – antes de irmos ao confessionário, de sermos primeiro pecadores perdoados, e somente mais tarde, ministros do perdão”.
Como confessores – enfatiza Francisco – “temos o privilégio de contemplar constantemente os “milagres” das conversões. Devemos sempre reconhecer a poderosa ação da graça, que é capaz de transformar o coração de pedra em coração de carne, de mudar um pecador que fugiu para longe em um filho arrependido que volta à casa do pai”.
Neste sentido, é importante a “formação para uma celebração reta e eficaz do Sacramento da Reconciliação, pressuposto indispensável para que dê frutos”:
“Isso para que cada confissão seja sempre um novo e definitivo passo em direção a uma santificação mais perfeita; um terno abraço, cheio de misericórdia, que contribui para expandir o Reino de Deus, Reino de amor, de verdade e paz”.
O Papa recorda que a própria Reconciliação “é um bem que a sabedoria da Igreja sempre salvaguardou com toda a sua força moral e jurídica com o segredo sacramental. Isso, embora nem sempre entendido pela mentalidade moderna, é indispensável para a santidade do Sacramento e para a liberdade de consciência do penitente, o qual deve estar certo, em qualquer momento, que o colóquio sacramental permanecerá no segredo do confessionário, entre a própria consciência que se abre para a graça e Deus, com a necessária mediação do sacerdote”.