Não julgar os outros, não condenar e perdoar: deste modo, se imita a misericórdia do Pai. Na missa celebrada na Casa Santa Marta (18/03), o Papa Francisco recordou a todos que na vida, para não errar, é preciso “imitar Deus”, “caminhar diante dos olhos do Pai”. Partindo do Evangelho do dia, extraído de Lucas (Lc 6,36-38), o Pontífice falou antes de mais sobre a misericórdia de Deus, capaz de perdoar as ações mais “graves”.

A misericórdia de Deus é algo tão grande, tão grande. Não nos esqueçamos disto. Quantas pessoas [dizem]: “Eu fiz coisas tão graves. Eu comprei meu lugar no inferno, não poderei voltar atrás”. Mas pense na misericórdia de Deus, não? Recordemos aquela história da pobre viúva que foi se confessar com o cura d’Ars (o marido tinha se suicidado; tinha se lançado da ponte num rio, não?). E chorava. Disse: “Mas eu sou uma pecadora, coitada. Mas coitado do meu marido! Está no inferno! Ele se suicidou e o suicídio é um pecado mortal. Está no inferno”. E o cura d’Ars disse: “Mas espere senhora, porque da ponte até o rio existe a misericórdia de Deus”. Mas até o fim, até o fim, há a misericórdia de Deus.

Bons hábitos na Quaresma

Para colocar-se no sulco da misericórdia, Jesus indica conselhos práticos. Antes de tudo, não julgar: um péssimo costume do qual abster-se, sobretudo neste tempo de Quaresma.

É um hábito que se infiltra na nossa vida sem que percebamos. Sempre! Até mesmo para começar uma conversa, não? “Mas você viu aquela pessoa o que fez?”. O julgamento sobre o outro. Pensemos quantas vezes por dia nós julgamos. Mas por favor! Parecemos todos juízes, não! Todos. Mas sempre para começar uma conversa, um comentário a respeito do outro, julgam: “Mas olha, fez uma plástica! Está pior do que antes”. O julgamento.

Depois, perdoar, mesmo que seja “tão difícil”, porque as nossas ações dão “a medida a Deus de como deve fazer conosco”.

Mantenhamos os bolsos abertos

Na homilia, o Papa convidou todos a aprender a sabedoria da generosidade, via mestra para renunciar às “fofocas”, em que “julgamos continuamente, condenamos continuamente e dificilmente perdoamos”.

O Senhor nos ensina: “Dai”. “Dai e vos será dado”: sejam generosos em doar. Não tenham os bolsos fechados; sejam generosos em doar aos pobres, àqueles que precisam e dar também tantas coisas: dar conselhos, dar sorrisos às pessoas, sorrir. Sempre dar, dar. “Dai e vos será dado. E vos será dado numa boa medida, calcada, sacudida, transbordante”, porque o Senhor será generoso: nós somos um e Ele nos dará cem de tudo aquilo que nós damos. E esta é a atitude que blinda o não julgamento, o não condenar e o perdoar. A importância da esmola, mas não só a esmola material, mas também a esmola espiritual; dedicar tempo a quem precisa, visitar um doente, sorrir.

Radio Vaticano

O evento da Transfiguração do Senhor inspirou as palavras do Papa Francisco antes de rezar com os fiéis na Praça São Pedro a oração mariana do Angelus.

O evangelista Lucas nos mostra Jesus transfigurado sobre a montanha, que é o local da luz, símbolo fascinante da singular experiência reservada aos discípulos Pedro, Tiago e João.

Eles sobem a montanha com o Mestre, o veem imergir-se em oração e, a um certo ponto, o seu rosto muda de aparência. E ao lado de Jesus apareceram Moisés e Elias, que falam com Ele de sua morte.

Ninguém alcança a vida eterna senão seguindo Jesus

Francisco explicou que a Transfiguração se realiza num momento singular da missão de Cristo, depois de confiar aos discípulos que sofrerá, morrerá e ressuscitará no terceiro dia.

Jesus quer que saibam que este é o caminho através do qual o Pai fará alcançar a glória para o seu Filho, ressuscitando-o dos mortos. “E este será também o caminho dos discípulos: ninguém alcança a vida eterna senão seguindo Jesus, carregando a própria cruz na vida terrena. Cada um de nós tem a própria cruz. O Senhor nos mostra o fim deste percurso, que é a Ressurreição, a beleza, carregando a própria cruz.”

A perspectiva cristã do sofrimento

Portanto, acrescentou o Papa, a Transfiguração de Cristo nos mostra a perspectiva cristã do sofrimento: “Não é sadomasoquismo, é uma passagem necessária, mas transitória”.

O ponto de chegada ao qual somos chamados é luminoso como o rosto de Cristo transfigurado: Nele está a salvação, a bem-aventurança, a luz, o amor de Deus sem limites.

Mostrando a sua glória, Jesus nos garante que a cruz, as provações, as dificuldades nas quais nos debatemos têm a sua solução e a sua superação na sua Páscoa.

O Papa fez então um convite aos fiéis:

“ Nesta Quaresma, subamos também nós a montanha com Jesus! De que modo? Com a oração. A oração silenciosa, a oração do coração, a oração sempre buscando o Senhor. Permaneçamos alguns momentos em recolhimento, todos os dias um pouquinho, fixemos o olhar interior no seu rosto e deixemos que a sua luz nos adentre e se irradie na nossa vida. ”

É assim, reiterou Francisco: a oração em Cristo e no Espírito Santo transforma a pessoa a partir de dentro e pode iluminar os outros e o mundo circunstante.

“Quantas vezes encontramos pessoas que iluminam, que emanam luz dos olhos, que têm aquele olhar luminoso! Rezam e a oração faz isto: nos faz luminosos com a luz do Espírito Santo.”

“Prossigamos com alegria o nosso itinerário quaresmal”, concluiu o Pontífice. “Vamos dar espaço à oração e à Palavra de Deus. Que a Virgem nos ensine a permanecer com Jesus mesmo quando não o entendemos e compreendemos. Porque somente permanecendo Nele veremos a sua glória.”

Angelus de 17 de março de 2019 – II Domingo da Quaresma

O Papa Francisco reza a oração mariana do Angelus com os fiéis e peregrinos na Praça São Pedro no II Domingo da Quaresma

Publicado por Vatican News em Domingo, 17 de março de 2019

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