Em seu discurso aos participantes no Congresso Anual da União Ciclística Europeia, Francisco salientou que a relação da Igreja com o esporte tem uma longa história, que se consolidou ao longo do tempo:

O esporte pode revelar-se uma grande ajuda para o crescimento humano de cada pessoa, pois estimula a dar o melhor de si, em vista de um determinado objetivo, e educa à constância, ao sacrifício e à renúncia. A prática de um esporte ensina a não desanimar e a recomeçar com decisão, após uma derrota ou uma lesão. Muitas vezes, o esporte torna-se uma oportunidade de expressar, com entusiasmo, a alegria de viver e a satisfação de atingir uma meta”.

O ciclismo, em particular, é um dos esportes, – disse o Papa – que dá mais ênfase a algumas virtudes, como a resistência à fadiga, a coragem, a integridade e o respeito às regras, o altruísmo e o senso de equipe. Assim, também na vida, é preciso cultivar um espírito comum de abnegação e generosidade para ajudar os que ficam para trás e precisam de uma mão para alcançar sua meta. E o Papa ponderou:

Os atletas têm uma extraordinária oportunidade de transmitir a todos, especialmente aos jovens, os valores positivos da vida e o desejo de empregá-la em metas elevadas e nobres. Isto faz-nos compreender a importância de se viver a serviço do crescimento da atividade desportiva e da realização integral da pessoa”.

Pelo contrário, – explicou Francisco – se o esporte se tornar um fim em si mesmo e a pessoa for instrumento a serviço de outros interesses, como o prestígio e lucro, então aparecem desordens que poluem o esporte, como o “doping”, a desonestidade, a falta de respeito por si mesmo e pelos adversários, e a corrupção.

O Santo Padre concluiu sua saudação aos ciclistas, falando sobre novas especialidades no campo do ciclismo, que se difundem entre as novas gerações e podem provocar resistência e representar um desafio para as disciplinas tradicionais:

Também para vocês vale o esforço que a Igreja assumiu de ouvir os jovens, de se interessar pelas suas expectativas, seus modos de expressar o desejo de viver e realizar-se. É preciso acompanhar as novas gerações sem perder de vista as tradições saudáveis ​​e a cultura popular, que, em tantos países do mundo, seguem o ciclismo e seus campeões”.

 

Radio Vaticano

No início da sua Mensagem, o Papa recordou os dois grandes eventos, que se realizaram recentemente na Igreja: o Sínodo dedicado aos jovens, em outubro de 2018, e a 34ª Jornada Mundial da Juventude no Panamá. Estes dois eventos permitiram à Igreja dar ouvidos à voz do Espírito e também à voz dos jovens, aos seus interrogativos, às suas fadigas e esperanças.

Por isso, neste Dia Mundial de Oração pelas Vocações, Francisco retoma o que partilhou com os jovens no Panamá e reflete sobre a chamada do Senhor, que nos torna portadores de uma promessa e, ao mesmo tempo, nos pede coragem de arriscar com Ele e por Ele.

Logo, promessa e risco: dois aspetos que o Papa propõe aos jovens ao contemplar o trecho evangélico da vocação dos primeiros discípulos às margens do Lago da Galileia.

Dois irmãos, Simão e André, junto com Tiago e João se ocupam da faina diária de pescadores. Nesta cansativa profissão, aprenderam as leis da natureza, desafiando-as quando os ventos eram contrários e as ondas agitavam os barcos. Em certos dias, a pesca abundante recompensava da árdua fadiga, mas, outras vezes, o trabalho de uma noite inteira de pesca não bastava para encher as redes e voltavam para casa, cansados e decepcionados.

Como na história de cada vocação, também neste caso acontece um encontro: no seu caminho, Jesus encontra aqueles pescadores e se aproxima deles. A mesma coisa acontece para quem escolhe compartilhar sua vida no matrimônio ou quando sente o fascínio da vida consagrada. Trata-se da surpresa de um encontro e da promessa de uma alegria, capaz de saciar a nossa vida.

De fato, Jesus não demorou a fazer a sua “promessa” àqueles pescadores: «Farei de vocês pescadores de homens».

Contudo, a chamada do Senhor não é uma ingerência de Deus na nossa liberdade; não é uma jaula ou um peso que devemos carregar. Pelo contrário, é a iniciativa amorosa com que Deus vem ao nosso encontro e nos convida a participar de um grande projeto.

A vocação é um convite a não ficarmos parados na praia com as redes na mão, mas a seguir Jesus no seu caminho, para a nossa felicidade e para o bem dos que nos rodeiam.

Claro, aceitar a sua promessa requer coragem de “arriscar”. De fato, os primeiros discípulos, “deixaram logo as redes e seguiram Jesus”. Aceitar a chamada do Senhor quer dizer deixar-se envolver totalmente e “correr o risco” de enfrentar um desafio inédito; é preciso deixar tudo o que nos impede de fazer uma escolha definitiva; é preciso audácia para descobrir o projeto que Deus tem para nós. Devemos confiar na promessa do Senhor.

No encontro com o Senhor, alguém pode sentir-se chamado à vida consagrada ou ao sacerdócio. Trata-se de uma descoberta que entusiasma e, ao mesmo tempo, assusta para se tornar “pescadores de homens” no barco da Igreja, dedicando-se totalmente ao serviço do Evangelho e dos irmãos, colaborando assim com a sua obra. Não há maior alegria do que arriscar a vida pelo Senhor!

O Santo Padre conclui a sua Mensagem com um apelo aos jovens: “Não sejam surdos à chamada do Senhor! Se Ele os chamar, não se oponham, mas confiem nele. Não se deixem contagiar pelo medo, que nos paralisa, diante da proposta do Senhor. Lembrem-se sempre que o Senhor promete, aos que deixam tudo para segui-lo, a alegria de uma vida nova, que enche o coração e anima nosso caminho”.

“Porém, nem sempre é fácil discernir a própria vocação e orientar a própria a vida. Por isso, os jovens devem poder contar com a Pastoral juvenil e vocacional, que ajude os ajude a descobrir o projeto de Deus, especialmente através da oração, meditação da Palavra de Deus, adoração eucarística e direção espiritual”.

Neste Dia Mundial de Orações pelas Vocações, o Papa nos convida a pedir ao Senhor que nos ajude a descobrir o seu projeto de amor e que nos dê a coragem de arriscar a empreender o caminho da sua sequela.

Íntegra da Mensagem do Papa para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações -12 de maio de 2019 – IV Domingo da Páscoa.

A coragem de arriscar pela promessa de Deus

Queridos irmãos e irmãs!

Depois da experiência vivaz e fecunda, em outubro passado, do Sínodo dedicado aos jovens, celebramos recentemente no Panamá a XXXIV Jornada Mundial da Juventude. Dois grandes eventos que permitiram à Igreja prestar ouvidos à voz do Espírito e também à vida dos jovens, aos seus interrogativos, às canseiras que os sobrecarregam e às esperanças que neles vivem.

Neste Dia Mundial de Oração pelas Vocações, retomando precisamente aquilo que pude partilhar com os jovens no Panamá, desejo refletir sobre a chamada do Senhor enquanto nos torna portadores duma promessa e, ao mesmo tempo, nos pede a coragem de arriscar com Ele e por Ele. Quero deter-me brevemente sobre estes dois aspetos – a promessa e o risco –, contemplando juntamente convosco a cena evangélica da vocação dos primeiros discípulos junto do lago da Galileia (cf. Mc 1, 16-20).

Dois pares de irmãos – Simão e André, juntamente com Tiago e João – estão ocupados na sua faina diária de pescadores. Nesta cansativa profissão, aprenderam as leis da natureza, desafiando-as quando os ventos eram contrários e as ondas agitavam os barcos. Em certos dias, a pesca abundante recompensava da árdua fadiga, mas, outras vezes, o trabalho duma noite inteira não bastava para encher as redes e voltava-se para a margem cansados e desiludidos.

Estas são as situações comuns da vida, onde cada um de nós se confronta com os desejos que traz no coração, se empenha em atividades que – espera – possam ser frutuosas, se adentra num «mar» de possibilidades sem conta à procura da rota certa capaz de satisfazer a sua sede de felicidade. Às vezes goza-se duma pesca boa, enquanto noutras é preciso armar-se de coragem para governar um barco sacudido pelas ondas, ou lidar com a frustração de estar com as redes vazias.

Como na história de cada vocação, também neste caso acontece um encontro. Jesus vai pelo caminho, vê aqueles pescadores e aproxima-Se… Sucedeu assim com a pessoa que escolhemos para compartilhar a vida no matrimónio, ou quando sentimos o fascínio da vida consagrada: vivemos a surpresa dum encontro e, naquele momento, vislumbramos a promessa duma alegria capaz de saciar a nossa vida. De igual modo naquele dia, junto do lago da Galileia, Jesus foi ao encontro daqueles pescadores, quebrando a «paralisia da normalidade» (Homilia no XXII Dia Mundial da Vida Consagrada, 2/II/2018). E não tardou a fazer-lhes uma promessa: «Farei de vós pescadores de homens» (Mc 1, 17).

Sendo assim, a chamada do Senhor não é uma ingerência de Deus na nossa liberdade; não é uma «jaula» ou um peso que nos é colocado às costas. Pelo contrário, é a iniciativa amorosa com que Deus vem ao nosso encontro e nos convida a entrar num grande projeto, do qual nos quer tornar participantes, apresentando-nos o horizonte dum mar mais amplo e duma pesca superabundante.

Com efeito, o desejo de Deus é que a nossa vida não se torne prisioneira do banal, não se deixe arrastar por inércia nos hábitos de todos os dias, nem permaneça inerte perante aquelas opções que lhe poderiam dar significado. O Senhor não quer que nos resignemos a viver o dia a dia, pensando que afinal de contas não há nada por que valha a pena comprometer-se apaixonadamente e apagando a inquietação interior de procurar novas rotas para a nossa navegação. Se às vezes nos faz experimentar uma «pesca miraculosa», é porque nos quer fazer descobrir que cada um de nós é chamado – de diferentes modos – para algo de grande, e que a vida não deve ficar presa nas redes do sem-sentido e daquilo que anestesia o coração. Em suma, a vocação é um convite a não ficar parado na praia com as redes na mão, mas seguir Jesus pelo caminho que Ele pensou para nós, para a nossa felicidade e para o bem daqueles que nos rodeiam.

Naturalmente, abraçar esta promessa requer a coragem de arriscar uma escolha. Sentindo-se chamados por Ele a tomar parte num sonho maior, os primeiros discípulos, «deixando logo as redes, seguiram-No» (Mc 1, 18). Isto significa que, para aceitar a chamada do Senhor, é preciso deixar-se envolver totalmente e correr o risco de enfrentar um desafio inédito; é preciso deixar tudo o que nos poderia manter amarrados ao nosso pequeno barco, impedindo-nos de fazer uma escolha definitiva; é-nos pedida a audácia que nos impele com força a descobrir o projeto que Deus tem para a nossa vida. Substancialmente, quando estamos colocados perante o vasto mar da vocação, não podemos ficar a reparar as nossas redes no barco que nos dá segurança, mas devemos fiar-nos da promessa do Senhor.

Penso, antes de mais nada, na chamada à vida cristã, que todos recebemos com o Batismo e que nos lembra como a nossa vida não é fruto do acaso, mas uma dádiva a filhos amados pelo Senhor, reunidos na grande família da Igreja. É precisamente na comunidade eclesial que nasce e se desenvolve a existência cristã, sobretudo por meio da Liturgia que nos introduz na escuta da Palavra de Deus e na graça dos Sacramentos; é nela que somos, desde tenra idade, iniciados na arte da oração e na partilha fraterna. Precisamente porque nos gera para a vida nova e nos leva a Cristo, a Igreja é nossa mãe; por isso devemos amá-la, mesmo quando vislumbramos no seu rosto as rugas da fragilidade e do pecado, e devemos contribuir para a tornar cada vez mais bela e luminosa, para que possa ser um testemunho do amor de Deus no mundo.

Depois, a vida cristã encontra a sua expressão naquelas opções que, enquanto conferem uma direção concreta à nossa navegação, contribuem também para o crescimento do Reino de Deus na sociedade. Penso na opção de se casar em Cristo e formar uma família, bem como nas outras vocações ligadas ao mundo do trabalho e das profissões, no compromisso no campo da caridade e da solidariedade, nas responsabilidades sociais e políticas, etc. Trata-se de vocações que nos tornam portadores duma promessa de bem, amor e justiça, não só para nós mesmos, mas também para os contextos sociais e culturais onde vivemos, que precisam de cristãos corajosos e testemunhas autênticas do Reino de Deus.

No encontro com o Senhor, alguém pode sentir o fascínio duma chamada à vida consagrada ou ao sacerdócio ordenado. Trata-se duma descoberta que entusiasma e, ao mesmo tempo, assusta, sentindo-se chamado a tornar-se «pescador de homens» no barco da Igreja através duma oferta total de si mesmo e do compromisso dum serviço fiel ao Evangelho e aos irmãos. Esta escolha inclui o risco de deixar tudo para seguir o Senhor e de consagrar-se completamente a Ele para colaborar na sua obra. Muitas resistências interiores podem obstaculizar uma tal decisão, mas também, em certos contextos muito secularizados onde parece não haver lugar para Deus e o Evangelho, pode-se desanimar e cair no «cansaço da esperança» (Homilia na Missa com sacerdotes, pessoas consagradas e movimentos laicais, Panamá, 26/I/2019).

E, todavia, não há alegria maior do que arriscar a vida pelo Senhor! Particularmente a vós, jovens, gostaria de dizer: não sejais surdos à chamada do Senhor! Se Ele vos chamar por esta estrada, não vos oponhais e confiai n’Ele. Não vos deixeis contagiar pelo medo, que nos paralisa à vista dos altos cumes que o Senhor nos propõe. Lembrai-vos sempre que o Senhor, àqueles que deixam as redes e o barco para O seguir, promete a alegria duma vida nova, que enche o coração e anima o caminho.

Queridos amigos, nem sempre é fácil discernir a própria vocação e orientar justamente a vida. Por isso, há necessidade dum renovado esforço por parte de toda a Igreja – sacerdotes, religiosos, animadores pastorais, educadores – para que se proporcionem, sobretudo aos jovens, ocasiões de escuta e discernimento. Há necessidade duma pastoral juvenil e vocacional que ajude a descobrir o projeto de Deus, especialmente através da oração, meditação da Palavra de Deus, adoração eucarística e direção espiritual.

Como várias vezes se assinalou durante a Jornada Mundial da Juventude do Panamá, precisamos de olhar para Maria. Na história daquela jovem, a vocação também foi uma promessa e, simultaneamente, um risco. A sua missão não foi fácil, mas Ela não permitiu que o medo A vencesse. O d’Ela «foi o “sim” de quem quer comprometer-se e arriscar, de quem quer apostar tudo, sem ter outra garantia para além da certeza de saber que é portadora duma promessa. Pergunto a cada um de vós: sentes-te portador duma promessa? Que promessa trago no meu coração, devendo dar-lhe continuidade? Maria teria, sem dúvida, uma missão difícil, mas as dificuldades não eram motivo para dizer “não”. Com certeza teria complicações, mas não haveriam de ser idênticas às que se verificam quando a covardia nos paralisa por não vermos, antecipadamente, tudo claro ou garantido» (Vigília com os jovens, Panamá, 26/I/2019).

Neste Dia, unimo-nos em oração pedindo ao Senhor que nos faça descobrir o seu projeto de amor para a nossa vida, e que nos dê a coragem de arriscar no caminho que Ele, desde sempre, pensou para nós.

Vaticano, Memória de São João Bosco, 31 de janeiro de 2019.

Franciscus

 

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