PALAVRA QUE ALIMENTA
Lectio Divina: Joel 2, 12-18
Data: 06.03.2019 (Quarta-Feira de Cinza).
“Voltai a mim de todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos de luto. Rasgai vossos corações e não vossas vestes; voltai ao Senhor, vosso Deus…”.
A Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica no início do tempo QUARESMAL, coloca à disposição dos vossos fieis, na quarta – feira de cinzas, o texto do livro do profeta Joel capítulo 2, versículos de 12 a 18, chamando a todos ao ARREPENDIMENTO dos vossos inúmeros pecados.
Sobre o povo existe um cenário de tristeza e destruição. A proclamação divina “AGORA – oráculo do Senhor”, oferece uma esperança à comunidade que treme e sofre por causa da invasão dos gafanhotos e que já esperava acontecimento pior.
A esperança é feita por meio do convite: “Voltai a mim de todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos de luto. Rasgai vossos corações e não vossas vestes; voltai ao Senhor, vosso Deus…”. O profeta Joel propõe ao povo um RETORNO SINCERO PARA DEUS, que se dará pela reorientação dos seus pensamentos e decisões, voltadas para Deus.
Torna-se necessário a participação na LITURGIA COMUNITÁRIA de lamentação, que se dá pelo jejum, pranto e luto. Esse ritual deveria ser acompanhado de um ato de verdadeira contrição, arrependimento e o gesto de rasgar o coração, demonstrando a transparência e o desejo de voltarem a ser um povo aliançado com o Senhor.
O povo passou a compreender que adoram e servem o Deus que é indulgente, misericordioso, afável, compassivo no castigo. Os membros da comunidade atual dependem de uma nova manifestação da misericórdia divina, pode ser que Deus se compadeça.
A comunidade é desafiada a “VOLTAR”. Só então haverá a benção restaurada de “oferenda e libação”, símbolos do relacionamento entre Deus e a comunidade.
Há um sentido de urgência para a comunidade se livrar do temível dia do Senhor. Por isso, ninguém pode ficar de fora do ritual de lamentação:
a) Adolescentes, crianças de peito, noivo e noiva estão incluídos na assembleia. A gravidade da situação e o testemunho de “todos os habitantes da terra impedem quaisquer exceções para privilégios comumente dados a recém-casados;
b) É indicada a localização para os funcionários do serviço: “Entre o pórtico e o altar”, é o lugar tradicional para liderar a comunidade em lamentação.
A invasão dos gafanhotos e as diversas desgraças que abatia aquele povo, era a quebra da relação com Deus e a falta de sacrifícios. Por isso, que os sacerdotes foram convocados pelo profeta Joel a prática da oração de lamentação e toda a assembleia.
Nesta quaresma, rezemos para que os sacerdotes possam implorar a Deus para poupar a comunidade, “teu povo”, e evitar entregar o “teu patrimônio ao opróbrio para que as nações não zombem de Deus, assim como foi feito no tempo do profeta Joel.
O retorno sincero ao Senhor, acompanhado de práticas como o jejum, as lágrimas, o luto e a oração, fez com que Deus abençoasse sua terra e tivesse compaixão do Seu Povo.
Que no início dessa quaresma, possamos colocar em prática a passagem de Joel, na crença de que temos ao nosso lado o Deus que é indulgente, misericordioso, afável e compassivo que espera de nós uma certa comunhão e intimidade com Ele. Amém!
Eduardo Badu – Fundador e Moderador Geral da Comunidade Maria Serva da Trindade – RJ.
Iniciar a Quaresma pedindo a graça da memória, de recordar aquilo que o Senhor fez em nossa vida. De fato, no caminho rumo ao encontro com Cristo ressuscitado é preciso estar atentos a não voltar para trás, a não ser surdos na alma e ao perigo da idolatria. Foi o que disse o Papa Francisco na manhã desta quinta-feira (07/03) na homilia da missa na casa Santa Marta, no Vaticano. A sua reflexão partiu da Primeira Leitura do dia, extraída do Deuteronômio. Trata-se de uma parte do discurso que Moisés fez ao povo para prepará-lo para entrar na Terra prometida, colocando-o diante de uma escolha entre a vida e a morte. “É um apelo à nossa liberdade”, explicou o Santo Padre detendo-se em particular sobre três palavras-chaves de Moisés: se “o teu coração se volta para trás”, “se tu não ouves” – segunda palavra – “e se te deixas levar a prostrar-te diante de outros deuses”.
“Quando o coração se volta para trás, quando toma uma estrada que não é a estrada justa – seja atrás, seja outra estrada, mas não vai pela estrada justa – perde a orientação, perde a bússola, rumo à qual deve seguir adiante. E um coração sem bússola é um perigo público; é um perigo para a pessoa e para os outros. E quando um coração toma essa estrada errada, é quando não ouve, é quando se deixa levar, conduzir-se pelos deuses, quando se torna idólatra.
Mas nós não somos capazes de ouvir, “muitos surdos na alma”. “Também nós em algum momento nos tornamos surdos na alma, não ouvimos o Senhor”, reiterou o Papa que advertiu também para os “fogos de artifício” que nos chamam, “os falsos deuses” que nos chamam à idolatria. E esse é o perigo ao longo da estrada, rumo à terra que foi prometida a todos nós: a terra do encontro com Cristo ressuscitado.”
E “a Quaresma nos ajuda a caminhar nesta estrada”, prosseguiu o Papa recordando que “não ouvir o Senhor” e as promessas que nos fez, é perder a memória: é quando se perde “a memória das grandes coisas que o Senhor fez na nossa vida, que fez na sua Igreja, em seu povo, e nos habituamos a caminharmos nós, com nossas forças”, com a nossa autossuficiência. Portanto, Francisco exorta a iniciar a Quaresma pedindo “a graça da memoria”. Depois, retomou o discurso que Moisés dirigiu ao povo pouco antes, quando o exortou, uma vez chegado “àquela terra” que não conquistou, quando terá comido do trigo que não semeou, a recordar-se de “todo o caminho” que o Senhor lhe fez percorrer. Mas quando estamos bem, quando temos tudo ao alcance da mão, “espiritualmente seguimos bem”, há o perigo de perder “a memória do caminho”:
“O bem-estar, inclusive o bem-estar espiritual tem este perigo: o perigo de cair numa certa amnésia, uma falta de memória: estou bem assim e me esqueço daquilo que o Senhor fez em minha vida, de todas as graças que nos deu e creio que é mérito meu e sigo adiante assim. E aí o coração começa a caminhar para trás, porque não ouve a voz do próprio coração: a memória. A graça da memória.”
Evocou, em seguida, também uma passagem da Carta aos Hebreus que parece seguir o mesmo esquema, no qual se exorta a recordar “os primeiros dias”. “Perder a memória é muito comum”, ressaltou o Pontífice: também o povo de Israel perdeu a memória, porque no perder a memória há algo de seletivo: recordo aquilo que me convém agora e não recordo algo que me ameaça.” Por exemplo, o povo recordava no deserto que Deus o havia salvado, “não podia esquecer isso”. Mas começou a lamentar-se pela falta de água e carne “e a pensar nas coisas que tinha no Egito”, como as cebolas. O Papa notou que porém se tratava de algo de “seletivo” porque “se esquece que todas essas coisas as comiam na mesa da escravidão”. Em seguida, reiterou o convite à memória que nos coloca no caminho justo. É preciso “recordar para seguir adiante; não perder a história: a história da salvação, a história da minha vida, a história de Jesus comigo”. E não parar, não voltar trás, não deixar-se levar pelos ídolos. A idolatria, efetivamente, “não é somente ir a um templo pagão e adorar uma estátua”.
“A idolatria é uma atitude do coração, quando tu preferes isso porque é mais cômodo para ti e não prefere o Senhor porque O esqueceste. No início da Quaresma nos fará bem a todos pedir a graça de custodiar a memória, custodiar a memória do Senhor inteiramente, de tuto aquilo que o Senhor fez em minha vida: como me quis bem, como me amou.” E dessa recordação, continuar seguindo adiante. E nos fará bem também repetir continuamente o conselho de Paulo a Timóteo, seu amado discípulo: ‘Recorda-te de Jesus Cristo ressuscitado dos mortos’. Repito: ‘Recorda-te de Jesus Cristo ressuscitado’, recorda-te de Jesus, Jesus que me acompanhou até agora e que me acompanhará até o momento no qual devo comparecer diante d’Ele, Jesus glorioso. O Senhor nos dê essa graça de conservar a memória.”
Radio Vaticano