Como o texto bíblico nos leva a refletir sobre a vida e os sentimentos

Nos artigos anteriores da série “As palavras da Palavra”, falamos sobre ser receptor e emissor da mensagem de Deus, tomando por exemplo a passagem do pecado original. No segundo artigo, falamos sobre a missão evangelizadora da Igreja e como somos participantes dela; no terceiro artigo, sobre o ministério da palavra. Agora, ao falarmos da reflexão particular, o exemplo é a parábola do filho pródigo, que poderá ilustrar de forma adequada como o texto bíblico nos leva a refletir sobre a vida e os sentimentos, além de uma simples leitura.

Na parábola do filho pródigo, Jesus narra um pai que tinha dois filhos. O mais novo, pediu sua herança e saiu de casa, gastou tudo que lhe pertencia, passou fome, necessidades e desejou a lavagem dos porcos como alimento. Após tanto sofrimento, lembrou-se da bondade de seu pai e decidiu retornar. Não ansiava retomar o lugar de filho, mas servir aquele pai que era benevolente com os servos lhe era suficiente. Ao retornar, foi recebido com misericórdia e foi celebrada a sua volta. Apenas seu irmão mais velho não se agradou com o retornou e tentou justificar-se com o pai: “Eu te sirvo há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua; e nunca me deste um cabrito para festejar com meus amigos. Quando chegou esse teu filho, que devorou teus bens com prostitutas, matas pra ele um novilho gordo!” (Lc 15, 29-30).

Vamos à reflexão

A atitude do pai misericordioso simboliza a misericórdia divina em contraposição ao filho mais velho, que se considera “justo”, porque não infringe nenhum preceito da Lei. Há um comportamento interessante na reflexão particular do texto bíblico, que deve ser divido em dois momentos. O primeiro que nos leva à prática da fé, é uma leitura constante e organizada, visando o entendimento da Palavra de Deus. O segundo é aquele consolador, quando em um momento de tribulação procuramos amparo na Bíblia. Contudo, o segundo sem o primeiro pode nos levar à ilusão.

Vamos considerar um sofrimento que nos ocorre no trabalho, quando um colega recebe uma promoção ou algum tipo de vantagem que não entendemos como justas e nos julgamos mais merecedores. Certamente, muitas passagens bíblicas virão até nós, dos falsos profetas, dos últimos que serão os primeiros e até mesmo de servir a Deus e não ao dinheiro. Note que todas essas passagens indicam que aquela promoção fará mal ao outro e nós estamos protegidos. Mas porque, nesse momento, não lembramos da parábola do filho pródigo?

Amor e misericórdia

Ao refletir sobre essa passagem, nesse momento de nossas vidas, nos veríamos como o filho mais velho, e a parábola se torna uma lição dura demais. Em outras palavras, na reflexão particular, os textos que demonstram o amor e a misericórdia de Deus foram escritos “para mim” e as duras lições e acertos de conduta foram escritos “para o outro”. Esse comportamento – que não é raro – nos afasta da lição que a Palavra quer nos transmitir. A parábola do filho pródigo, além da misericórdia divina, trata da inveja, do egoísmo e da arrogância. Condena a atitude daquele que não reconhece mais como irmão o filho marcado pelo pecado. Veja que ao falar com o pai o filho mais velho menciona “esse teu filho”, demonstrando que já não o considera mais o pecador como da mesma família.

O filho mais velho, por mais que cumpridor das Leis, faltou com o mais importante dos mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Lc 10, 27). Na reflexão particular das Sagradas Escrituras não fechemos os olhos para as lições mais importantes, pois assim estaremos apenas procurando subsídios para nossas falhas e imperfeições. Pelo contrário, busquemos as lições mais duras, que formam o caráter e moldam nosso espírito à imagem e semelhança de Deus. Não julgue, não condene nem critique. Compreenda, acolha e aconselhe. Que Deus nos acompanhe e nos ilumine. Que assim seja.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.

Canção Nova

No início da manhã desta quinta-feira (21), o Papa Francisco introduziu os trabalhos do primeiro dia do encontro inédito sobre a proteção dos menores dentro da Igreja. A conferência reúne, pela primeira vez, os presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo no Vaticano para abordar o tema.

O Papa começou o encontro afirmando do seu forte desejo de responsabilidade em interpelar Patriarcas, Cardeais, Arcebispos, Bispos, Superiores Religiosos e Responsáveis “diante da chaga dos abusos sexuais perpetrados por homens da Igreja em detrimento dos menores”. Todos juntos e “com a docilidade” da condução do Espírito Santo, “escutemos o grito dos pequenos que pedem justiça”.

“ O santo Povo de Deus nos vê e espera de nós não simples e evidentes condenações, mas medidas concretas e eficazes a serem realizadas. ”

Responsabilidade pastoral e eclesial

O Pontífice pediu que o encontro tivesse a incumbência do “peso da responsabilidade pastoral e eclesial que nos obriga a discutir juntos, de maneira sinodal, sincera e aprofundada sobre como enfrentar esse mal que aflige a Igreja e a humanidade. O santo Povo de Deus nos vê e espera de nós não simples e evidentes condenações, mas medidas concretas e eficazes a serem realizadas. São necessárias medidas concretas”, acrescentou Francisco.

O Papa enalteceu, então, que o percurso de todos através desse encontro, no Vaticano, começa “armados da fé e do espírito de máxima parresia, de coragem e concretude”.

Como subsídio, disse Francisco, “me permito compartilhar com vocês alguns importantes critérios, formulados pelas diversas Comissões e Conferências Episcopais que chegaram até nós. São orientações para ajudar a nossa reflexão que serão entregues a vocês. São um simples ponto de partida que veio de vocês e volta para vocês”.

Transformar o mal em consciência e purificação

O Papa Francisco, então, agradeceu a Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, a Congregação para a Doutrina da Fé e os membros da Comissão Organizadora pelo “excelente trabalho desenvolvido com grande empenho em preparar este encontro”. E o Pontífice finalizou:

“ Peço ao Espírito Santo de nos sustentar nestes dias e de nos ajudar a transformar esse mal em uma oportunidade de consciência e de purificação. A Virgem Maria nos ilumine para buscar curar as graves feridas que o escândalo da pedofilia causou seja nos pequenos que nos crentes. ”

Ouvir as vozes das vítimas

Os trabalhos do encontro iniciaram com uma oração, durante a qual alguns testemunhos de vítimas foram compartilhados – de quem não pôde falar ou foi silenciado. Os presentes na conferência elevaram as próprias orações para que cada um pudesse ouvir aqueles que “foram violados e feridos, maltratados e abusados”, reconhecendo “as feridas do povo para que seja feita justiça”.

“Não consentir que os nossos fracassos”, foi a oração ao Senhor, “façam os homens perderem a fé em ti e no teu Evangelho”. Um longo e denso silêncio seguiu a uma das experiências que foram lidas:

“Ninguém me escutava; nem os meus pais, nem os meus amigos, nem depois as autoridades eclesiásticas. Não me escutavam e nem mesmo o meu choro. E eu me questiono: por quê? E me questiono por que Deus não me escutou?”

Radio Vaticano