“Quando todo o povo ia sendo batizado, também Jesus o foi. E estando Ele a orar, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba; e veio do céu uma voz: “Tu és o meu filho bem-amado; em ti ponho minha afeição” (Lc 3,21-22).
Eu já tinha lido esses versículos inúmeras vezes, mas, até então, não havia despertado para esta verdade: “…estando Ele a orar, o céu se abriu”. É a oração de Jesus que rasga o céu. Dessa vez, o raio parte da terra, fulgurante, atravessa o céu rompendo-o; e uma vez aberto, o céu derrama o que tem de mais precioso: o Espírito de Deus. O Espírito Santo foi derramado, porque Jesus orou. Quando oramos em nome do Senhor, Ele mesmo apresenta nossa oração ao Pai.
O Espírito Santo se derramou, em Pentecostes, porque também a comunidade orou e sua oração atingiu em cheio o céu. Dia e noite, o Reino dos Céus é arrebatado pelos violentos. Nossa oração violenta os céus! Santo Afonso de Ligório dizia que quem reza faz violência a Deus, mas é uma violência que Lhe agrada. Se quisermos ser cheios do Espírito Santo, precisamos ser violentos na oração, o que também quer dizer: rezar mais.
A vida de Jesus foi marcada pela oração. A multidão O cercava, mas Ele se retirava para rezar. Quando o tempo era escasso, Ele se levantava na madrugada para fazer Sua oração. Não tomou as grandes decisões de Sua vida sem antes ter dobrado os joelhos ante Aquele que O amava. Se a oração foi necessária a Jesus, ela é muito mais a nós. Reclamamos que a vida é dura conosco e que nos fere, mas isso acontece com todas as pessoas; também foi assim com o Senhor, e foi na oração do Horto que o Pai O consolou e curou. Toda a nossa salvação está na oração.
Um dia, quando São Boaventura terminava a pregação, um homem o tomou pelo braço – era São Tomás de Aquino – e foi lhe dizendo: “Não te deixarei até que me digas de que fonte bebes, qual a tua biblioteca, onde buscas tanta sabedoria, pois até hoje tudo o que falaste, falaste muito bem. Não te largo até que me contes”.
Então, Boaventura o conduziu à sua cela e, correndo uma cortina, pôs-se a dizer: “Aqui está a fonte em que bebo e minha sabedoria. Eis a minha biblioteca”. Tomás replicou: “Mas é tão parecida com a minha!”. Atrás da cortina havia apenas um crucifixo e um genuflexório. Quem deixa a oração por causa do estudo não busca a Deus, mas a si mesmo. Deus ensina muitas verdades a quem se deixa instruir por Ele na oração. Se quisermos ser cheios de Deus, precisamos estar a Seus pés.
Lembro-me de Maria sentada aos pés de Jesus enquanto Marta, sua irmã, ocupava-se dos afazeres da casa. Marta queria que Jesus estivesse numa casa agradável, com cheirinho de limpeza, e comesse uma bela refeição, mas não tardou muito a se indignar com sua irmã esparramada aos pés do Senhor, enquanto ela se matava de trabalhar. Foi tanta a sua irritação, que pôs de lado Maria e virou-se para Jesus: “Não te importas que eu esteja aqui a tentar te agradar e minha irmã fique sentada a falar contigo?”.
Ao que Jesus responde sorrindo: “Marta, Marta, tu te preocupas com tantas coisas e não te preocupas com o necessário. Maria escolheu a melhor parte e isso não lhe será tirado”. Penso que Jesus, muitas vezes, nos vê perdidos entre tantos pedidos, uns mais, outros menos necessários, e sorri a dizer o nosso nome: “Se tu soubesses… Ocupas-te com tantas coisas e te perdes em tantos pedidos que te esqueces de pedir o essencial: o Espírito”.
Quem está cheio do Espírito Santo tem tudo, mas o que dele está vazio, ainda que tenha muito, nada tem. Tempo é uma questão de prioridade. Vemos quanta importância damos a Deus pelo tempo que Lhe dedicamos. As desculpas acabam por ser sempre as mesmas: cansaço, pouco tempo, trabalho, marido, filhos etc. É estranho! Temos tempo para tudo, exceto para Aquele que nos deu todo o tempo. Na verdade, não é falta de tempo, mas de amor.
Este é e será o maior desespero no inferno: o poder ter alcançado a salvação com facilidade, pedindo as graças necessárias. E agora os que foram condenados não têm mais tempo de rezar. Seja fiel! Nunca negligencie o seu tempo de oração e verá, em pouco tempo, os resultados. O Senhor nos ama, quer nos consolar e derramar generosamente Suas bênçãos sobre nós. Se nos aproximarmos Dele pela oração, mais ainda Ele se aproximará de nós. Santa Teresa d’Ávila ensina: “Quem pede recebe, mas quem não pede não recebe…”. Há momentos em que Deus está apenas esperando que, pela oração, venhamos a aderir à Sua vontade para nos socorrer.
O objetivo da vida cristã é a aquisição do Espírito, dizia Serafim de Sarov, mas o “Espírito Santo gosta de se derramar no meio da comunidade” (Santo Afonso). Rezar em casa não é a mesma coisa que rezar na Igreja. A oração pessoal é importante, mas não basta. Há graças que Deus nos concede mediante nossa oração pessoal, mas há outras que Ele nos quer dar quando estamos rezando em comunhão com outras pessoas, no seio da comunidade.
Basta observar que, quando o Espírito foi derramado em Pentecostes, os discípulos se encontravam reunidos e perseveravam unanimemente em oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os parentes d’Ele. Jesus ensina que o que pedirmos em comum acordo ao Pai do Céu, em Seu nome, Deus no-lo dará.
Precisamos estar de acordo, unidos de coração e com o mesmo ânimo, saber o que quer nossa comunidade e o que queremos também nós. “Se alguém de vós quer sabedoria, peça-a a Deus – que a todos dá liberalmente, com simplicidade e sem recriminação – e ser-lhe-á dada. Mas peça-a com fé, sem nenhuma vacilação, porque o homem que vacila assemelha-se à onda do mar, levantada pelo vento e agitada de um lado para o outro. Não pense, portanto, tal homem que alcançará alguma coisa do Senhor, pois é um homem irresoluto, inconstante em todo o seu proceder” (Tg 1,5-8).
Não ponha em dúvida se é ou não verdade, aceite com fé as Palavras do Senhor, porque Ele, que é a verdade, não mente. Outra necessidade é perseverar em comunidade, na oração, pedir, procurar, bater à porta de Deus. Ele quer que sejamos insistentes.
Você tem um poder sobre Deus, sobre o Espírito Santo: o poder de pedir. Num primeiro momento, pode parecer pouca coisa, mas não é. A oração é uma arma poderosa. O homem que reza é um homem poderoso, pois faz seu o poder que é de Deus. O Senhor se apressa em ouvir a oração do justo, e vale a pena dizer que, aqui, o justo se identifica com o homem e a mulher de fé, com aqueles que aceitaram Jesus como o Senhor de sua vida e foram por Ele justificados.
Radio Vaticano
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2019 (que no Brasil é celebrada entre a Ascensão e Pentecostes) foi preparada pelos cristãos da Indonésia. Com uma população de 265 milhões, 86% dos quais se identificam como muçulmanos, a Indonésia é bem conhecida como o país que tem a maior população muçulmana. No entanto, 10% dos indonésios são cristãos de tradições diversas.
“A corrupção – segundo o texto preparado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos – se manifesta de muitas maneiras. Ela infeta a política e os empreendimentos, frequentemente com consequências devastadoras para o ambiente. Em particular, a corrupção enfraquece a justiça e a implementação da lei. Com frequência, os que se supõe que deveriam promover a justiça e proteger os fracos fazem o oposto. Como consequência, a distância entre os ricos e os pobres tem aumentado; e assim, um país rico em recursos tem o escândalo de muitas pessoas vivendo na pobreza”.
Para os cristãos indonésios, as palavras de Deuteronônio “Procurarás a justiça, nada além da justiça” refletem fortemente sobre sua situação: “As comunidades cristãs num ambiente assim se tornam, de um modo novo, conscientes de sua unidade quando partilham uma preocupação comum e buscam uma resposta comum para uma realidade injusta. Ao mesmo tempo, diante dessas injustiças, somos obrigados, como cristãos, a examinar as situações em que nos tornamos cúmplices. Somente dando total atenção à prece de Jesus “para que eles sejam um” podemos testemunhar a vivência da unidade na diversidade. É através de nossa unidade em Cristo que seremos capazes de combater a injustiça e atender às necessidades das vítimas”.
“Também neste ano, na audiência geral da quarta-feira 16 de janeiro o Papa Francisco disse: “Devemos rezar para que todos os cristãos voltem a ser uma só família, coerente com a vontade divina, que quer “que todos sejamos um” (Jo 17, 21). O ecumenismo não é uma coisa opcional. A intenção (da iniciativa) será amadurecer um testemunho comum e concertado na afirmação da verdadeira justiça e no apoio aos mais fracos, através de respostas concretas, adequadas e eficazes”.
Radio Vaticano