Atualmente, vivemos em um mundo cada vez mais secularizado e ateu. Por causa disso, a fé se encontra também com seu significado desfragmentado. Contudo, o risco maior é que muitos crentes sofrem também por essa secularização e perda de sentido da fé. Por isso, convido você a examinar sua vida e questionar-se se, verdadeiramente, você sabe o que é fé. Você se considera alguém que acredita plenamente em Deus e no Seu amor providente?
A fé é uma das três virtudes teologais, juntamente com a esperança e a caridade. Essas três virtudes dão condições para que as virtudes humanas se desenvolvam. O Catecismo da Igreja Católica n° 1814 define a fé como “a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, ‘o homem livremente se entrega todo a Deus’”. Dessa forma, percebemos a importância da fé na vida do cristão como aspecto fundamental para a sua salvação.
É em Abraão que enxergamos a figura arquétipa daquele que crê. Abraão estava fadado a morrer sem deixar descendência, porque sua mulher Sara era considerada amaldiçoada por não poder gerar filhos. Mas Deus honrou a fé desse homem e concedeu não somente um filho, mas o transformou em pai de uma geração tão numerosa como a areia do mar e as estrelas do céu. Deus honra a fé do Seu povo, por isso você não pode deixar de acreditar.
Abraão, pelo seu exemplo, torna-se para toda a Igreja o pai da fé. Ele dá prova da sua fé com o que tinha de mais sagrado, recebido do próprio Deus, o seu filho Isaac. Façamos o itinerário deste homem que foi conduzido até as últimas consequências para depois receber a glória de Deus. O livro do Gênesis capítulo 22 narra o sacrifício de seu filho, mas descreve também o juramento de Deus por Abraão não ter negado o seu unigênito.
O Senhor se comunica com o seu servo Abraão e pede que ele suba até o monte Moriá para sacrificar seu único filho (cf. Gn 22,1-2). Abraão não mede as consequências, e bem cedo prepara tudo e vai ao lugar indicado para oferecer Isaac em sacrifício. Com essa atitude, o homem de Deus já demonstra que, em primeiro lugar, está a confiança no Senhor e que Ele está disposto a realizar o que Deus pediu, não em um ato de loucura, mas numa ação de fé. A fé faz com que toquemos na dimensão do abandono em Deus, ela nos impulsiona a uma confiança extrema no Senhor.
O homem que crê tem em seu coração a certeza de conhecer o seu Deus intimamente. Por isso, manter um relacionamento com Deus torna você capaz de esperar em Deus e experimentar seu amor providente. Enquanto Abraão e Isaac subiam para o local do holocausto, o menino perguntou ao pai onde está o cordeiro que será oferecido.
O pai responde como alguém que tem fé: “Deus providenciará o cordeiro para o holocausto, meu filho”. Nessa resposta, percebe-se a confiança plena e uma atitude de fé em meio a provação. São nos momentos de mais dificuldade, de crise, que você precisará dar respostas de fé; nesses momentos, não poderá improvisar. Você só dará o que tiver, por isso, cultive a sua fé. Você não conseguirá dar respostas próprias de quem crê se você não treina a sua fé todos os dias.
Depois de chegar ao lugar indicado, Abraão prepara o altar, a lenha, e coloca Isaac sobre a lenha. Estava tudo pronto para o holocausto, o filho único daquele homem de Deus será sacrificado, mas, antes de ser consumado, o anjo do Senhor gritou do céu para que Abraão não matasse o menino. O Gênesis narra que, com essa atitude, o anjo sabe que ele teme o Senhor e não pouparia o seu filho (cf. Gn 22,12). Deus providencia para o sacrifício um carneiro que aparece preso pelos chifres num espinheiro.
Meu caro, assim como Abraão, a confiança o fará experimentar a manifestação de Deus e sua abundante providência. Aquele que tem a coragem de entregar o que é mais valioso para Deus receberá do Senhor muito mais.
Abraão não chega a matar seu filho, mas o gera em outra dimensão. A atitude daquele homem realiza o novo na vida dele, quando ele entrega o filho da promessa e o recebe de volta, mas, dessa vez, gerado na fé. Porque com olhos espirituais sobre o fato, perceber-se-á que o filho oferecido não é o mesmo que retorna para o pai. Isaac nasce na dimensão da fé experimentada pelo pai. Também Abraão se torna um outro homem a partir daquela experiência de fé. O que salvou aquele menino foi a atitude de Abraão, porque ele não o reteu. Este é o segredo, não reter nem o outro, nem as coisas, nem Deus e nem a si mesmo. Ofereça a Deus tudo o que você tem e receberá de volta o novo do Senhor, pois Ele também não retém o amor.
O abandono em Deus atrairá sobre você o amparo do Senhor. Não tema se lançar no amor do Senhor, porque Ele sabe o que você precisa e não poupará em lhe dar o melhor no tempo oportuno. O desfecho da narrativa do Gênesis acontece uma vez mais com a promessa de Deus para com Abraão de fecundidade. Deixe-se surpreender pelo Senhor, Ele só espera que você creia e confie totalmente n’Ele.
Canção Nova
Considerando os eventos já programados, o ano de 2019 será muito intenso para o Santo Padre. Em janeiro, o Papa encontra como tradição o Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé, uma ocasião para lançar à comunidade internacional uma forte mensagem: no ano passado o Papa aproveitou a ocasião do 70º aniversário da Declaração dos Direitos Humanos para dizer que ainda hoje, no Terceiro Milênio, muitos direitos humanos foram violados, o primeiro de todos o da vida.
De 23 a 28 de janeiro o Papa faz a sua primeira viagem do ano: Panamá. Participará da 34ª Jornada Mundial da Juventude com o tema “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”. Evento que chega depois do Sínodo sobre os Jovens realizado em outubro no Vaticano.
De 3 a 5 de fevereiro Papa Francisco viajará aos Emirados Árabes Unidos, será o primeiro pontífice a visitar o país. O tema da visita é “Fazei de mim um instrumento de vossa paz”, extraído da Oração de São Francisco de Assis. O evento será centralizado na importância do diálogo inter-religioso e da fraternidade entre os fiéis das várias religiões. O ano de 2019 foi declarado pelas autoridades dos Emirados “Ano da tolerância” com o objetivo de promover uma cultura que se afaste de qualquer tipo de fundamentalismo.
De 18 a 20 de fevereiro será realizado no Vaticano a 28ª Reunião do Conselho dos Cardeais: o tema central será o projeto de revisão da Constituição Pastor Bonus sobre a Cúria Romana: em dezembro passado uma nova proposta da Constituição Apostólica, com o título Praedicate evangelium, foi entregue ao Santo Padre. O objetivo é tornar este organismo de governo mais apropriado às exigências de uma Igreja em saída, profundamente missionária.
Um evento muito esperado para este ano é o encontro no Vaticano sobre o problema dos abusos. O Papa encontrará todos os presidentes das Conferências Episcopais do Mundo para falar da prevenção dos abusos contra menores e adultos vulneráveis. Um encontro fundamental para a luta contra os abusos de poder, de consciência e sexuais cometidos por expoentes da Igreja. Ao encontrar a Cúria em dezembro passado Francisco pede que os casos não sejam silenciados, mas trazidos objetivamente à luz, “porque o maior escândalo nesta matéria é o de encobrir a verdade” acrescentando aos que cometem abusos “convertei-vos, entregai-vos à justiça humana e preparai-vos para a justiça divina”.
Nos dias 30 e 31 de março o Papa irá ao Marrocos depois de 33 anos da histórica vista de São João Paulo II em 19 de agosto de 1985. Na ocasião o Papa polonês encontrou 80 mil jovens muçulmanos no estádio de Casablanca. Um evento que nunca tinha acontecido antes no diálogo entre cristianismo e islã.
De 5 a 7 de maio o Papa visitará a Bulgária e a República da Macedônia. Na Bulgária visitará as cidades de Sófia e Rakovski: o tema da viagem é “Pacem in Terris”, recordando a famosa encíclica de São João XXIII, primeiro Visitador e Delegado Apostólico na Bulgária.
Na República da Macedônia o Papa visitará a cidade de Escópia, cidade natal de Santa Teresa de Calcutá, fundadora das Missionárias da Caridade. O tema da visita, que no logotipo se apresenta em macedônio e inglês, é “Não temas, ó pequeno rebanho” (Lc 12, 32).
Já no ano passado Papa Francisco tinha anunciado a sua vontade de visitar o Japão em 2019: “Espero que seja possível” disse à Associação japonesa “Tensho Kenoh Shisetsu Kenshoukai” recordando que há mais de 400 anos, em 1585, quatro jovens japoneses chegaram a Roma, acompanhados por alguns missionários jesuítas, para visitar o então Papa Gregório XIII. Na ocasião Francisco disse: “Os europeus encontraram os japoneses e os japoneses encontraram a Europa e o coração da Igreja Católica. Um encontro histórico entre duas grandes culturas e tradições espirituais, que devemos conservar na memória”.
Entre os encontros importantes de 2019 destaca-se a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Pan-amazônica que será realizada em outubro. Participam sete Conferências Episcopais e nove países da região amazônica. Papa Francisco deseja que se discuta o tema: “Amazônia, novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral”. Mas o encontro não será apenas sobre ecologia: serão tratados importantes temas eclesiais.
O ano de 2019 começa com o Dia Mundial da Paz. Na sua mensagem, Francisco convida a colocar a política ao serviço da paz: “A paz parece-se com a esperança de que fala o poeta Charles Péguy; é como uma flor frágil, que procura desabrochar por entre as pedras da violência. Como sabemos, a busca do poder a todo o custo leva a abusos e injustiças. A política é um meio fundamental para construir a cidadania e as obras do homem, mas, quando aqueles que a exercem não a vivem como serviço à coletividade humana, pode tornar-se instrumento de opressão, marginalização e até destruição”.
Na sua Mensagem de Natal o Papa lançou votos de fraternidade que valem para o ano de 2019: “Fraternidade entre pessoas de todas as nações e culturas. Fraternidade entre pessoas de ideias diferentes, mas capazes de se respeitar e ouvir umas às outras. Fraternidade entre pessoas de distintas religiões” porque “Deus é um Pai bom e nós somos todos irmãos”.