O Papa Francisco recebeu na manhã desta sexta-feira os seus colaboradores da Cúria Romana, para as felicitações de Natal – uma das audiências mais tradicionais e aguardadas do ano (texto integral aqui)
Como nos anos precedentes, o Pontífice fez um longo discurso, franco, falando das mazelas e das alegrias que afligem o trabalho de quem se dedica à Igreja.
“No mundo turbulento, a barca da Igreja viveu este ano e vive momentos difíceis, sendo acometida por tempestades e furacões”, analisou o Papa.
“Entretanto, a Esposa de Cristo prossegue a sua peregrinação entre alegrias e aflições, entre sucessos e dificuldades, externas e internas. Com certeza, as dificuldades internas continuam sempre a ser as mais dolorosas e destrutivas.”
Para o Pontífice, muitas são as aflições, citando os migrantes que encontram a morte ou aqueles que, ao sobreviverem, acham as portas fechadas. “Quanto medo e preconceito!”, lamentou Francisco.
“Quantas pessoas e quantas crianças morrem diariamente por falta de água, comida e remédios! Quanta pobreza e miséria! Quanta violência contra os frágeis e contra as mulheres! Quantos cenários de guerras declaradas e não declaradas! Quantas pessoas são sistematicamente torturadas.”
Francisco falou também que se vive hoje uma “nova era de «mártires»”. “A cruel e atroz perseguição do Império Romano parece não conhecer fim”, constatou.
Outro motivo de aflição apontado pelo Papa é o contratestemunho e os escândalos de alguns filhos e ministros da Igreja através do flagelo dos abusos e da infidelidade.
“Desde há vários anos que a Igreja está seriamente empenhada em erradicar o mal dos abusos”, garantiu o Pontífce.
Hoje, afirmou o Papa, também existem homens consagrados que “cometem abomínios e continuam a exercer o seu ministério como se nada tivesse acontecido; não temem a Deus nem o seu juízo, mas apenas ser descobertos e desmascarados”.
Francisco então foi contundente:
A propósito, o Pontífice citou o encontro de fevereiro próximo, no Vaticano, com todos os presidentes das Conferências Episcopais, para reiterar a vontade da Igreja de prosseguir pelo “caminho da purificação”.
Ainda sobre o tema dos abusos, Francisco agradeceu o trabalho dos jornalistas “que foram honestos e objetivos e que procuraram desmascarar estes lobos e dar voz às vítimas”.
“Por favor, ajudemos a Santa Mãe Igreja na sua tarefa difícil que é reconhecer os casos verdadeiros distinguindo-os dos falsos, as acusações das calúnias, os rancores das insinuações, os boatos das difamações.”
Aos abusadores, o Papa pediu que se convertem e se entreguem à justiça humana e se preparem para aquela divina.
Outra aflição apontada por Francisco é a da infidelidade, citando o famoso provérbio: «De boas intenções, o inferno está cheio».
São as pessoas que “traem a sua vocação, o seu juramento, a sua missão, a sua consagração a Deus e à Igreja; aqueles que se escondem, por detrás de boas intenções, para apunhalar os seus irmãos e semear joio, divisão e perplexidade; pessoas que sempre encontram justificações, até lógicas e espirituais, para continuar a percorrer, imperturbáveis, o caminho da perdição”.
Para fazer resplandecer a luz de Cristo, portanto, o Papa recorda que todos temos o dever de combater a “corrupção espiritual”.
Francisco deixou para o final do seu discurso os motivos de alegrias:
“O bom êxito do Sínodo dedicado aos jovens. Os passos realizados até agora na reforma da Cúria: os trabalhos de clarificação e transparência na economia” são alguns deles.
Também são motivos de alegrias os novos Beatos e Santos, de modo especial os recentes dezanove mártires da Argélia.
Acrescentam-se o aumento do número de fiéis, as famílias e os pais que vivem seriamente a fé e a transmitem diariamente aos próprios filhos e o testemunho de muitos jovens que escolhem “corajosamente” a vida consagrada e o sacerdócio.
“Um verdadeiro motivo de alegria é também o grande número de consagrados e consagradas, bispos e sacerdotes, que vivem diariamente a sua vocação com fidelidade, em silêncio, na santidade e abnegação. São pessoas que iluminam a escuridão da humanidade, com o seu testemunho de fé, esperança e caridade.”
O Santo Padre recordou que a força de toda e qualquer instituição não reside em ser composta por homens perfeitos, mas na sua vontade de se purificar continuamente:
O Papa concluiu seu discurso com uma mensagem de esperança, recordando que o Natal dá a certeza de que “a Igreja sairá destas tribulações ainda mais bela, purificada e esplêndida”.
Radio Vaticano