O Papa Francisco recebeu na manhã deste sábado (24/11) na Sala do Consistório, no Vaticano, 40 seminaristas da Arquidiocese de Agrigento, na Sicília, acompanhados pelo Cardeal Montenegro, arcebispo da cidade. O Papa deixou de lado seu discurso preparado e falou de improviso.
No texto que havia preparado, o Papa propôs quatro pontos de reflexão, pessoal e comunitária, a partir do recente Sínodo dos Bispos para os Jovens: caminho, escuta, discernimento e missão.
Referindo-se ao ícone bíblico, o Evangelho dos discípulos de Emaús, que guiou os trabalhos sinodais e pode continuar a inspirar o caminho dos candidatos ao sacerdócio. Logo, a primeira palavra-chave, apresentada por Francisco aos seminaristas, foi precisamente o caminho:
“Jesus Ressuscitado nos encontra no caminho, que, ao mesmo tempo, é a realidade na qual cada um de nós é chamado a viver; este percurso interior, o caminho da fé e da esperança, proporciona momentos de luz, mas também momentos de escuridão. Neste caminho, o Senhor nos encontra, nos ouve e nos fala”.
A seguir, o Santo Padre passou à segunda palavra chave: a escuta. Nosso Deus é a Palavra e, ao mesmo tempo, é o Silêncio que escuta. Jesus é a Palavra que se faz escuta e acolhida da nossa condição humana:
“Quando Jesus aparece ao lado dos dois discípulos de Emaús, caminha com eles, os ouve e os estimula a falar o que sentem dentro de si, suas esperanças e suas decepções. Isto significa que, em sua vida no seminário, o diálogo com o Senhor deve ocupar o primeiro lugar, um diálogo feito de escuta mútua: Ele me ouve e eu o ouço, sem nenhuma ficção e nenhuma máscara”.
Esta escuta do coração, na oração, disse Francisco, nos educa a sermos pessoas capazes de ouvir os outros e a nos tornar verdadeiros sacerdotes, que oferecem o serviço da escuta; educa-nos a ser, cada vez mais, Igreja que escuta, uma comunidade que sabe ouvir. Enfim, como Jesus, a Igreja é enviada ao mundo para ouvir o clamor da humanidade, seu grito silencioso, às vezes, reprimido, sufocado. Aqui, o Papa apresentou a terceira palavra-chave da sua reflexão: o discernimento:
“O seminário é lugar e tempo de discernimento. Mas, isto requer acompanhamento, como Jesus fez com os dois discípulos de Emaús e com os outros discípulos, sobretudo com os Doze. Ele os acompanhou com paciência e sabedoria; educou-os a segui-lo na verdade, dissipando as falsas expectativas dos seus corações. E fez tudo isso com respeito e decisão, mas também como um bom amigo e bom médico, que, às vezes, precisa usar o bisturi”.
Tantos problemas que surgem na vida de um sacerdote, afirmou Francisco, são devido à falta de discernimento nos anos de seminário. Jesus não finge com os discípulos de Emaús, não é evasivo, não contorna seus problemas, mas os chama de “insensatos e lentos de coração”, porque não acreditaram nos profetas. Por isso, abriu as suas mentes às Escrituras e seus olhos ao partir do pão. O mistério da vocação e do discernimento, frisou o Pontífice, é uma obra-prima do Espírito Santo, que exige a colaboração do candidato ao sacerdócio.
Por fim, o Santo Padre refletiu sobre uma quarta palavra-chave para a vida sacerdotal: a missão, uma dimensão muito valorizada durante o Sínodo dos Jovens: ir juntos ao encontro dos outros. E o Papa acrescentou:
“Os dois discípulos de Emaús voltaram juntos para Jerusalém e, sobretudo, se uniram à comunidade apostólica, que, pelo poder do Espírito, se tornou missionária. Isto é muito importante, porque muitas vezes somos tentados a ser bons missionários por conta própria. Também os seminaristas podem cair nesta tentação. Muitas vezes a nossa impostação tem sido individual, mais do que colegial e fraterna”.
Radio Vaticano