“Há uma expressão que não me agrada: “Voltar à casa do Pai”, como se a nossa fosse uma viagem de ida e volta. É bonito dizer: “Estou indo para aquele encontro”. É o que sublinha o Papa Francisco no prefácio do livro “A sabedoria do tempo”, organizado pelo diretor da revista dos jesuítas “La Civiltà Cattolica” Padre Antonio Spadaro, apresentado nesta terça-feira, 23, no Instituto Augustinianum em Roma, no evento intergeracional que teve a participação do diretor de cinema Martin Scorcese.
O livro reúne 250 entrevistas realizadas em mais de trinta países, graças ao projeto “Compartilhando a Sabedoria do Tempo” realizado por um grupo de editoras coordenadas pela estadunidense Loyola Press, com a ajuda da organização sem fins lucrativos Unbound e do Serviço dos Jesuíta para os Refugiados.
É uma história coral composta de palavras e imagens, nas quais se encontram histórias e rostos de idosos dos cinco continentes: o Papa comenta, em diálogo com o padre Spadaro, as aulas de desenho, momentos pastorais, e compartilha momentos de sua própria biografia pessoal.
“A nossa sociedade – escreve o Papa – privou os avós de sua voz. Tiramos o espaço e a oportunidade deles contarem a nós a sua experiência, as suas histórias, a sua vida. Os deixamos de lado e perdemos o bem de sua sabedoria. Quisemos remover o nosso medo da fraqueza e da vulnerabilidade, mas assim fazendo, fizemos aumentar nos idosos a angústia de serem mal apoiados e abandonados”.
Ao invés disto, “devemos despertar o sentido civil da gratidão, do apreço, da hospitalidade, capaz de fazer com que o idoso se sinta parte viva da comunidade. Colocando de lado os avós, descartamos a possibilidade de entrar em contato com o segredo que permitiu a ele seguir em frente, fazer caminho na aventura da vida”.
E assim fazendo – observou Francisco – “nos faltam modelos, testemunhos vividos. Ficamos perdidos. Nos privamos do testemunho de pessoas que não somente perseveraram no tempo, mas que conservam no coração a gratidão por tudo aquilo que viveram”.
E por outro lado, “como é feio o cinismo de um idoso que perdeu o sentido de seu testemunho, que despreza os jovens, que se lamenta sempre. Deste modo, a sua sabedoria de vida não é mais transmitida, torna-se estéril nostalgia”.
“Como é bonito, pelo contrário – observa o Papa – o encorajamento que o idoso consegue comunicar a uma jovem ou a um jovem em busca do sentido da vida! Esta é a missão dos avós. Uma verdadeira vocação”.
“Os idosos são a reserva sapiencial da nossa sociedade. A atenção pelos anciãos é aquilo que distingue uma civilização”, acrescenta.
O Papa pede aos idosos – que define os “memoriosos da história”, para “formarem um coro”, “um coro permanente de um grande santuário espiritual, onde a oração de súplica e o canto de louvor apoiem a comunidade que trabalha e luta no “campo” da vida”.
“Mas peço a eles também para agir! De terem a coragem de contrastar de todas as formas a “cultura do descarte” que é imposta a eles em nível mundial”.
“E o que peço aos jovens?”. “Sinto pena de um jovem – disse – cujos sonhos se apagam na burocracia. Como o jovem rico do Evangelho. Vai embora triste, vazio. Peço portanto escuta, proximidade aos idosos; peço para não aposentar a existência deles na “quietude burocrática” na qual guardam tantas propostas privadas de esperança e de heroísmo. Peço um olhar às estrelas, aquele espírito saudável de utopia que leva a recolher energia por um mundo melhor”.
“Eis o que eu gostaria: um mundo que viva um novo abraço entre os jovens e os idosos”, conclui o Santo Padre.