Precisamos aprender a conhecer os dons do Espírito Santo
A nossa vida espiritual tem duas dimensões. Primeiro, uma dimensão voltada para dentro de nós, a qual é chamada de “vida interior”; outra, voltada para fora, que podemos chamar de apostolado ou vida missionária. Ao falar dos dons e carismas, estamos falando da pessoa do Espírito Santo e de Suas formas de agir, pois nenhuma pessoa se dá sem dar aquilo que é. Portanto, os dons e carismas são expressões da Sua ação e missão em nós e na Igreja: “Mas recebereis o poder do Espírito Santo que virá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra” (cf. At 1,8).
Dons de Santificação
A primeira dimensão, voltada para dentro, é a busca da nossa santificação, a busca do nosso retorno para Deus, é a luta contra o pecado e contra tudo que esconde em nós a imagem e semelhança de Deus. São eles: dom da fortaleza, da piedade, da sabedoria, do conhecimento, do conselho, do entendimento e do temor de Deus.
Isso é uma tarefa que supera as forças naturais, para a qual é preciso a força de Deus. Ele nos socorre com os chamados dons infusos ou dons de santificação. Desde o batismo nós os recebemos, e a Igreja os chama de sete dons.
Esses dons fazem crescer em nós a graça do batismo que recebemos como semente, para que, à medida que a criança vá crescendo, também vá crescendo as coisas de Deus nela. São para isso os dons de santificação: sabedoria para buscar o Senhor e ciência para mergulhar profundamente nos Seus mistérios. Enfim, todos eles para levar a pessoa à santificação.
Dons Carismáticos
Na segunda dimensão está a Igreja. É a dimensão de comunidade, de caminhar com o povo de Deus. Ele os concede não para nós, mas para os outros. Um exemplo é o dom da sabedoria, cujo objetivo não é nos alimentar, mas sim alimentar os outros.
Os dons carismáticos nos são dados apenas para nos orientar, como os dons da fé, da ciência, o dom de cura, de milagres, os quais, como diz São Paulo, são para o bem da Igreja, para os outros, para utilidade de todos.
São eles: dom da fé, dom de interpretação, de profecia, da cura, de dom de línguas, dons de milagres, de discernimento, de palavra de ciência e sabedoria.
Quando nós exercemos os dons carismáticos, não quer dizer que já somos santos, porque Deus pode usar quem Ele quiser, da maneira que quiser. Mas é preciso dizer que, quanto mais santa a pessoa for, mais fácil é para Deus usar dela. Por isso, esses carismas não estão separados dos dons de santificação. Eu até diria que existe uma grande interface entre eles, pois quanto mais a pessoa vive os dons de santificação, mais aptidão ela tem para viver os dons carismáticos.
Na dimensão interior, estão os dons de santificação. Na dimensão exterior, estão os dons carismáticos. O dom de fortaleza, também chamado “dom da coragem“, imprime em nossa alma um impulso que nos permite suportar as maiores dificuldades e tribulações, e realizar, se necessário, atos sobrenaturalmente heroicos.
Dom da fortaleza
Quando falarmos em virtudes heroicas, não pensemos que só existe heroísmo quando enfrentamos grandes causas. Você faz grandes heroísmos lá no interior da sua casa, no dia a dia de sua vida. Veja bem que imenso ato heroico é o de uma mãe que suporta o vício do álcool do marido ou do filho! Às vezes, por 10, 20, 40 anos ela enfrenta aquela dor, aquele sofrimento, por amor a Deus, por doação e caridade. Essa mãe tem o dom da fortaleza. Este não é só para os mártires, os grandes confessores da fé, mas para cada um de nós. Hoje, vemos uma multidão caindo nas tentações. Pode estar faltando o dom da fortaleza em muita gente. Saber não cair na tentação já é um sinal da força desse carisma.
Santa Teresinha nos fala do “heroísmo do pequeno”. A fidelidade às pequenas inspirações que Deus nos faz, todo dia e toda hora, é fruto do dom da fortaleza. Nós deixamos passar ótimas oportunidades quando pequenas cruzes, pequenos sofrimentos vão passando pela nossa vida e nós não os aproveitamos para uma resposta fiel a Deus. Vem um aborrecimento, uma pessoa nos causa feridas, porque falou qualquer coisa contra nós.
O que fazemos? Há duas respostas: revidamos com palavras amargas, com evidente menosprezo, com inimizades etc., ou fazemos de conta que nem ficamos sabendo, não nos importamos com aquilo etc.
São poucas as pessoas que fazem por Deus e pelo próximo aquilo que poderiam fazer mais, porque não têm coragem de se empenhar em grandes obras. Imagine o bem que poderíamos fazer se ainda não fôssemos tão comodistas! Paulo afirma: “Tudo posso naquele que me fortalece” (cf. Fl 4,13). E nos diz mais: pode suportar as maiores dificuldades e tribulações e praticar, se necessário, atos heroicos. “Não pelas suas qualidades pessoais, mas pelo dom da fortaleza que Deus lhe concedeu”. Carta aos Coríntios, descrevendo as tribulações pelas quais passou por amor ao Senhor e à Igreja:
“Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado, três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de meus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigo no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! Além de outras coisas, a minha preocupação quotidiana, a solicitude por todas as Igrejas!” (II Cor 11,24-28).
O dom da fortaleza se opõe à timidez, que é o temor desordenado e também aquele comodismo que impede de caminhar, de querer dar grandes passos. Estacionamos numa espiritualidade medíocre, temos medo de tudo, de prejudicar a amizade, de descontentar alguém e vamos comodamente parando no caminho da perfeição.
Radio Vaticano