O Santo Padre celebrou uma Santa Missa na manhã de sexta-feira (06/7), na Basílica Vaticana, para os Migrantes, por ocasião do quinto aniversário da sua visita à Ilha de Lampedusa, sul da Itália, primeiro compromisso do seu Pontificado em terras italianas.
Durante a celebração Eucarística, por intenção dos defuntos e sobreviventes dos desembarques de imigrantes, como também por aqueles que os acolhem e assistem, o Papa iniciou sua homilia com a dura admoestação do profeta Amós: “Vocês que desprezam os pobres e exterminam os humildes… anelam ao abatimento do necessitado; e destroem os miseráveis da terra, ouçam: Eis que virão dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei a fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas fome de ouvir as Palavras do Senhor”. E o Papa explicou:
Vítimas da cultura do descarte
“A advertência do profeta Amós ainda hoje é de grande atualidade. Quantos pobres, hoje, são pisoteados! Quantos menores são exterminados! Todos eles são vítimas da cultura do descarte, denunciada tantas vezes. Entre eles não posso deixar de citar os migrantes e refugiados, que continuam a bater às portas das Nações, que gozam de maior bem-estar!”.
A este respeito, Francisco recordou a visita que fez à Lampedusa, sul da Itália, no início do seu Pontificado, para recordar as vítimas dos naufrágios. Na ocasião, fez um premente apelo à responsabilidade humana: “Onde está seu irmão? O grito do seu sangue chega até a mim”. Esta pergunta de Deus é dirigida a mim,
a você e a todos nós… E, ainda hoje, choramos pela perda de milhares de irmãos. E o Papa acrescentou:
Injustiças cometidas no silêncio
“O Senhor promete restabelecimento e libertação a todos os oprimidos do mundo. Mas, ele precisa de nós para tornar eficaz a sua promessa; precisa dos nossos olhos para ver as necessidades dos irmãos e irmãs; precisa das nossas mãos para socorrer; precisa da nossa voz para denunciar as injustiças cometidas no silêncio, às vezes, cúmplice, por tantas pessoas”.
Neste sentido, o Papa falou dos muitos silêncios: o do senso comum; o da desculpa de “sempre se fez assim”; o silêncio do “nós” contraposto ao de “vocês”. Por isso, – afirmou -, o Senhor precisa do nosso coração para manifestar o amor misericordioso de Deus com os últimos, os excluídos, os abandonados, os marginalizados. E citando a frase evangélica “Quero misericórdia e não sacrifícios”, uma acusação da hipocrisia estéril dos que não querem “sujar as mãos”, Francisco explicou:
Solidariedade: única resposta sensata
“Trata-se de uma tentação, bem presente também em nossos dias, que se traduz em um fechamento em relação aos que têm direito, como nós, de segurança e de vida digna; uma tentação que leva a construir muros, concretos ou imaginários, ao invés de pontes. Diante dos desafios migratórios de hoje a única resposta sensata é a da solidariedade e da misericórdia”.
Esta resposta, – disse Francisco – exige uma équa divisão de responsabilidades; exige uma avaliação, honesta e sincera, das alternativas e uma gestão transparente; exige uma política justa que se coloque a serviço das pessoas, que garanta soluções e segurança, respeito dos direitos e da dignidade de todos. E citando o comportamento justo a ser assumido diante de Deus, proposto pelo Salmista “Escolhi o caminho da fidelidade e do juízo de Deus”, o Papa ponderou:
Sabedoria
“Trata-se de um compromisso de fidelidade e de reto juízo, que, esperamos, seja levado adiante, junto com os governantes da terra e as pessoas de boa vontade. Por isso, seguimos com atenção o trabalho das Comunidades internacionais, que enfrentam os desafios das migrações contemporâneas, conciliando, com sabedoria, solidariedade e subsídio e identificando recursos e responsabilidades”.
O Santo Padre concluiu sua homilia, falando em espanhol, para os que vieram da Espanha, representando os socorristas e os resgatados no Mar Mediterrâneo.
Aos socorristas o Papa expressou sua gratidão por encarnarem a parábola do Bom Samaritano, salvando vidas; aos resgatados, reiterou sua solidariedade e encorajamento diante das tragédias, das quais tentam fugir. E os exortou:
“Peço-lhes que continuem a ser testemunhas da esperança em um mundo cada vez mais preocupado com o próprio presente, com pouca visão do futuro e relutante a partilhar; peço-lhes que trilhem, conjuntamente, o caminho da integração, no respeito pela cultura e as leis do país de acolhimento”.
Francisco se despediu dos fiéis, presentes na celebração Eucarística, invocando o Espírito Santo “para que ilumine a nossa mente e inflame os nossos corações, a fim de superarmos os medos e as inquietações, e nos transforme em instrumentos dóceis do amor misericordioso do Pai, prontos a dar a nossa vida aos irmãos e irmãs, como Jesus o fez”
Radio Vaticano