Sentimo-nos na obrigação de dar uma resposta para tudo
Nem sempre a resposta está pronta. Há uma beleza na dúvida que vale a pena ser apreciada. Forjar a resposta antes do tempo é a mesma coisa que colher frutos verdes. Demore na dúvida e descubra a sabedoria que insiste em se esconder na ausência de palavras.
A outra face da dúvida
Responder perguntas é fácil. Difícil é ensinar a conviver com as dúvidas, forjar a vida a partir das incertezas, das inconclusões e reticências, permitindo que o mistério sobreviva às constantes invasões da racionalidade, no horizonte de tantas realidades que não são desdobráveis, possíveis de serem dissecadas.
Viver para responder cansa. Há muito, ando lutando para abandonar esse espírito de onipotência que tomou conta de nós. Sentimo-nos na obrigação de dar respostas para tudo. Não sabemos dizer que não sabemos, mas insistimos em falar de coisas que ainda nem acreditamos, só para não termos que enfrentar o desconcerto do silêncio. Falamos, porque não suportamos a ausência de respostas.
Talvez, seja por isso que tantas pessoas têm buscado as religiões de respostas simples. Por que sofremos? Por que pessoas boas sofrem coisas ruins? Perguntas que são constantes na vida humana, sobretudo no momento em que a tragédia nos abate, o sofrimento nos visita. Torna-se muito simples justificar o sofrimento como forma de pagamento por vidas passadas, processos de purificação que expiam erros cometidos por outros. Compreensões absolutamente simplistas, redutoras, e, portanto, resposta fácil.
A dor gera perguntas. A alegria, nem sempre. A religião é um recurso humano que nos ajuda a conviver com as questões mais fundamentais que são próprias da nossa condição. Ela responde, mas nem sempre essa resposta pode ser formulada por meio de palavras. Isso porque a religião é acontecimento da vida inteira, é processual, acontece aos poucos.
Jesus quis ensinar a seus discípulos essa sabedoria. Não foram poucas as vezes em que eles Lhes pediam explicações e respostas fáceis. Jesus nunca caiu nessa armadilha. Em vez de lhes entregar respostas prontas, Ele lhes ensinava a conviver com a dúvida criativa. Também Sua mãe aprendeu isso com Ele. Guardava tudo no seu coração, porque sabia que a experiência do distanciamento é forma de conhecimento. Há fatos que se dão no agora da vida e que só poderão ser entendidos depois de passado um determinado tempo.
Eu sei que você sofre, constantemente, os apelos deste mundo de respostas prontas. Talvez, até já tenha pensado em trocar sua religião por uma outra que responda melhor seus questionamentos. Só não se esqueça de que nem sempre você precisa de respostas. A vida, por vezes, só é possível no silêncio do questionamento. A desolação do calvário, o profundo silêncio de Deus, a Mãe que acolhe o filho morto nos braços é uma das exortações mais belas que a humanidade já pôde conhecer.
Respostas não caem do céu, mas são geradas no processo histórico que o ser humano realiza. Viver é maturar, é amadurecer, é superar horizontes, acolher novas possibilidades e descobrir respostas onde não imaginávamos encontrar. Conviver com dúvidas requer maturidade, e isso não é aprendizado que se dá da noite para o dia. A dúvida de hoje pode ser a certeza de amanhã.
Canção Nova