A obediência também é uma virtude moral

A virtude da obediência também é anexa à virtude cardeal da justiça, pois que a obediência é uma homenagem, um ato de submissão que devemos ter aos superiores. No entanto, ambas se distinguem, porque implica desigualdade entre superiores e inferiores.

A obediência é uma virtude moral (que se conquista pela repetição, gerando um hábito) e sobrenatural (e também a adquirimos pela ajuda da graça de Deus), que nos inclina a submetermos nossa vontade à dos superiores legítimos, enquanto são representantes de Deus.

A teologia por trás da obediência diz do supremo domínio de Deus e na submissão absoluta que lhe deve a criatura. A obediência a Deus, que se revela ao seguimento de Cristo, na mensagem do Evangelho, e também ao que nos revela e interpreta o ensinamento do magistério da Igreja. Como filhos de Deus, somos chamados a imitar Seu Filho, que, por obediência, entrou no mundo, e por obediência, sofreu do modo mais difícil Sua saída desse mundo. Resgatou-nos a todos, com sua obediência, da servidão do pecado, por Seu Sangue Precioso.

As criaturas racionais tem mais obrigação de obedecer a Deus, pelo mesmo fato de terem recebido a racionalidade, que nos eleva acima dos demais. Além do dom da liberdade de escolha.

O homem não se basta a si só. ele precisa da sociedade para sua cultura física, intelectual e moral. Para que ocorra o bem comum, é necessário à sociedade líderes. Deus deu aos líderes a Sua autoridade sobre os Seus filhos. É sob essa perspectiva que devemos obedecer aos superiores como ao próprio Deus.

Os líderes têm o dever moral e espiritual de ser a voz d’Aquele que quer o bem de todos. Desobedecê-los é ,antes, desobediência para com Deus. Se esse exercem sua autoridade para a própria glória, quem os cobrará será o próprio Senhor, e aqueles a quem ele deve obediência. Sem a submissão aos líderes, surge a desordem e a anarquia.

Na ​ordem natural, ​ podem-se distinguir três espécies de sociedades: a sociedade doméstica ​ou ​familiar, a que presidem os pais; a sociedade ​civil governada pelos detentores legítimos da autoridade, segundo sistemas reconhecidos nas diversas nações; a sociedade​ profissional, em que há patrões e operários cujos direitos e deveres respectivos são determinados pelo contrato de trabalho. Na ​ordem sobrenatural,​ os superiores hierárquicos são o ​Santo Pontífice, os ​Bispos, ​párocos​ e ​vigários.

Nas comunidades particulares e ordens aprovadas pelo Papa ou pelos Bispos, as autoridades eleitas segundo as Constituições e Regras. Por conseguinte, quem quer que entra numa dessas comunidades, por esse mesmo fato se obriga a observar os seus regulamentos e a obedecer aos Superiores que mandam dentro dos limites definidos pela regra.

Os limites ao exercício da autoridade

É evidente que não se faz obrigatório obedecer a uma autoridade que porventura mandasse qualquer coisa manifestamente contrária às leis divinas, à lei natural, à moral e às leis eclesiásticas. “Importa obedecer antes a Deus que aos homens.” Por exemplo, uma lei que aprove o aborto está contra o direito natural. O mesmo se diz da obrigatoriedade de se praticar um aborto. Não se deve obedecer.

O mesmo se diga se a ordem dada for notoriamente impossível. Nesse ponto, se não há a certeza de que é impossível, deve-se procurar obedecer ao superior. Não se deve lhe obedecer se esse manda fora das suas atribuições. Por exemplo: um pai que se opõe à vocação religiosa de um filho. Um superior que dá ordens contrárias à regra e constituições. Lembrando que estamos falando de aquisição de virtudes. Caso uma pessoa esteja em seu trabalho e recebe uma ordem, mesmo não sendo do seu superior imediato, mas de alguém que lhe pode retirar do emprego caso não lhe seja obediente, nesse caso, deve-se obedecer-lhe.

Os graus da obediência

Deve-se, antes de tudo, observar fielmente os mandamentos de Deus e da Igreja, e submeter-se, ao menos externamente, às ordens dos superiores legítimos com diligência, pontualidade e com espírito de obediência a Deus. Um próximo passo para evoluir na virtude da obediência seria meditar e procurar imitar a obediência de Cristo a Deus Pai; assim como era submisso a Maria e a José.

Nosso trabalho pela aquisição da virtude da obediência deve ser tal, a ponto de não se contentar em obedecer externamente, mas sujeitam internamente à vontade, ainda mesmo nas coisas custosas, contrárias à sua vontade; obedecer de todo o coração, sem se queixar, com a esperança de, agindo assim, assemelham-se mais e mais ao Divino Mestre; não usar de estratagemas para trazer o superior a querer o que eu quero. Os seja, se se conduz o superior a fazer aquilo que mais me agrada, não obedeço ao superior, mas sim o superior a mim.

A obediência, para ser ​perfeita, deve ser: ​sobrenatural​ na intenção, ​universal​ na extensão, inteira na execução.

Sobrenatural ​ na intenção: é procurar ver nos superiores a pessoa de Jesus. E assim, é a Ele que nós obedecemos. “Obedecei a vossos senhores temporais com temor e tremor e com o singelo coração, como a Cristo; não os servindo só em sua presença, como quem quer comprazer a homens; mas antes, como servos de Cristo, que fazem nisso a vontade de Deus de coração e com boa vontade, como quem serve ao Senhor, e não a homens” (Ef 6,5-6). “Deus suprirá o que falta a seu ministro” (Sto Inácio). Não olhemos, pois, para os defeitos dos nossos superiores, o que torna a obediência mais difícil, nem para as suas qualidades, o que a torna menos meritória, mas consideremos a Deus que vive e manda em Suas pessoas.

Universal na extensão: devemos obedecer a todas as ordens do superior legítimo, sempre que manda legitimamente. “O obediente ficará vencedor em todas as dificuldades a que foi levado pela obediência, e sairá com honra dos caminhos em que entrar por obediência, por mais perigosos que possa ser” (S. Francisco de Sales). Por outros termos, o superior pode enganar-se, mandando: nós não nos enganamos, obedecendo.

Inteira ​na execução, e, por conseguinte, ​pontual, ​sem restrição, ​constante e até alegre.

Pontual: o obediente ama o preceito, e, desde que o percebe de longe, seja ele qual for, quer seja conforme o seu gosto quer não, aplica-se em fazer imediatamente.

Sem restrição: porque fazer seleções, obedecer em certas coisas e desobedecer em outras, é perder o mérito da obediência, é mostrar que nos sujeitamos no que agrada, e, por conseguinte, que esta submissão não é sobrenatural.

Alegre: a obediência não pode ser alegre nas coisas custosas, se não for inspirada pelo amor; é que, efetivamente, a quem ama, nada é penoso, porque esse tal não pensa no sofrimento, mas naquele por quem sofre.

A excelência da obediência

A obediência nos une a Deus e faz-nos comungar habitualmente em sua vida. As criaturas obedecem a Deus por necessidade de natureza. O homem o faz por meio de sua liberdade. Desse modo, faz homenagem ao seu supremo Senhor do que tem de mais caro, e imola a mais excelente das vítimas: a vontade. E como a vontade é a rainha de todas as faculdades, unindo-a a Deus, unimos-lhe todas as potências da nossa alma.

É também o mais constante e duradouro: pela comunhão sacramental não ficamos unidos a Deus mais que alguns instantes; mas a obediência habitual estabelece entre a nossa alma e Deus uma espécie de comunhão espiritual perene, que nos faz permanecer nele, como Ele permanece em nós, pois queremos tudo quanto Ele quer e nada desejamos senão o que Ele deseja; o que é, afinal, a mais real, a mais íntima, a mais prática de todas as uniões.

A obediência é a mãe e guarda de todas as virtudes. Confunde-se, efetivamente, com a caridade, já que o amor, como ensina Santo Tomás, produz antes de tudo a união das vontades. A obediência verdadeira é, pois, em última análise, um ato excelente de caridade.

Ela nos faz também praticar as demais virtudes, enquanto são todas mandadas ou ao menos aconselhadas. Assim, por exemplo, faz-nos praticar a mortificação e penitência, tantas vezes prescritas no Evangelho, a justiça, a religião, a caridade e todas as virtudes contidas no Decálogo. Faz-nos até semelhantes aos mártires que sacrificam a sua vida por Deus, colocando as vítimas sobre o altar: a vontade e o juízo próprio.

A obediência dá-nos assim perfeita segurança; deixando a nós mesmos, não saberíamos talvez determinar-nos o que é mais perfeito; a obediência traçando-nos o nosso dever para cada instante, mostra-nos o caminho mais seguro para nos santificarmos.

Enfim, a obediência transforma em virtudes e méritos as ocupações mais ordinárias da vida, refeições, recreios, trabalhos; tudo quando é feito com espírito de obediência participa do mérito desde virtude, agrada a Deus e será recompensado por Ele.

Canção Nova

A alegria “é o respiro do cristão”, uma alegria feita de verdadeira paz e não falsa como aquela que a cultura de hoje oferece, que “inventa tantas coisas para nos divertir”, inúmeros “momentos de dolce vita”. Na Missa celebrada na manhã de segunda-feira (28/05) na capela da Casa Santa Marta, o Papa voltou a falar de uma das características do cristão: a alegria, não obstante as provações e as dificuldades.

O respiro do cristão

Na homilia, comentando um trecho da primeira carta de São Pedro apóstolo e do Evangelho de São Marcos, em que se fala de um jovem rico que não consegue renunciar aos próprios interesses, o Pontífice destaca que um verdadeiro cristão não pode ser “tenebroso” ou “triste”. “Ser homem e mulher de alegria”, insiste, significa “ser homem e mulher de paz, significa ser homem e mulher de consolação”.

“A alegria cristã é o respiro do cristão, um cristão que não é alegre no coração não é um bom cristão. É o respiro, o modo de se expressar do cristão, a alegria. Não é algo que se compra ou que faço com esforço, não: é um fruto do Espírito Santo. Quem faz a alegria no coração é o Espírito Santo”.

O primeiro passo da alegria é a paz

A rocha sólida sobre a qual se apoia a alegria cristã é a memória: nã podemos de fato esquecer “aquilo que o Senhor fez por nós”, “regenerando-nos” a uma nova vida; assim como a esperança daquilo que nos aguarda, o encontro com o Filho de Deus. Memória e esperança são os dois elementos que permitem aos cristão viver na alegria, não uma alegria vazia, mas uma alegria cujo “primeiro grau” é a paz.

“A alegria não é viver de risada em risada. Não, não é isso. A alegria não è ser engraçado. Não, não é isso. É outra coisa. A alegria cristã é a paz. A paz que está nas raízes, a paz do coração, a paz que somente Deus pode nos dar. Esta é a alegria cristã. Não é fácil preservar esta alegria”.

A cultura dos “momentos de dolce vita”

No mundo contemporâneo, prossegue o Papa, infelizmente nos contentamos de uma “cultura pouco alegre”, “uma cultura onde inventam tantas coisas para nos divertir”, tantos “momentos de dolce vita”, mas que não satisfazem plenamente. A alegria, de fato, “não é algo que se compra no mercado”, “é um dom do Espírito” e vibra também no “momento do turbamento, no momento da provação”.

“Há uma inquietação positiva, mas outra que não é positiva, a de buscar as seguranças em qualquer lugar, de buscar o prazer em qualquer lugar. O jovem do Evangelho tinha medo de que se abandonasse as riquezas não poderia ser feliz. A alegria, a consolação: o nosso respiro de cristãos”.

Radio Vaticano