A abertura aos dons do Espírito Santo possibilita um salto qualitativo na existência
“Não há maior liberdade do que se deixar guiar pelo Espírito Santo e permitir que Ele nos conduza para onde quiser”. Esse foi um dos convites do Papa Francisco durante a Semana da Novena de Pentecostes e de Orações pela unidade dos cristãos. Trata-se de uma provocação positiva destinada a orientar nossas escolhas diárias, pois fomos criados com o maravilhoso e desafiador presente da liberdade.
Atribui-se ao Espírito Santo, terceira pessoa da Santíssima Trindade, amor que circula entre o Pai e o Filho, a santificação da humanidade, garantia prometida por Jesus aos Seus discípulos, para acompanhá-los no tempo da Igreja, até a volta do Senhor no fim dos tempos. Este tempo é precioso e há de ser desfrutado como uma oportunidade atrás da outra para acolher a graça que vem de Deus, realizar as obras d’Ele e testemunhá-las a todos os homens e mulheres que encontrarmos. Somos convidados, continuamente, a essa abertura da alma àquele que é chamado “Alma da Igreja”. Deixar-nos conduzir pelo Espírito Santo!
Para tanto, faz-se necessário exercitar o discernimento, identificando as moções que nos vêm do Espírito. O olhar interior, adquirido na oração, abre nossos ouvidos, nossos olhos e o coração para identificar a voz do Espírito. Não se trata de sons ou barulhos externos, mas indicações capazes de conduzir as nossas decisões. No meio de tanta agitação, nasce o apelo ao recolhimento e ao silêncio. Vale a pena desligar as muitas fontes de informações e apelos vindos de fora, para desfrutar o clamor da voz interior, não a abafando, inclusive porque ela não nos fecha aos clamores das outras pessoas e situações humanas, mas qualifica nossa sensibilidade, para nos deixarmos conduzir pelo Espírito Santo!
Há um roteiro para a escuta da voz interior, instrumento precioso colocado à nossa disposição, a Palavra de Deus. O contato diário com a Bíblia e sua leitura atenta treinam nossa sensibilidade para os verdadeiros valores, abrem nosso horizonte para a compreensão de realidades antes escondidas. E isso pode ser feito com muita calma e serenidade, passando pelo percurso da meditação, oração, contemplação e propósitos de vida nova.
Abertura aos dons do Espírito Santo
A abertura aos dons do Espírito Santo, pedidos e acolhidos, com os quais podemos agir de modo sobrenatural no cotidiano da vida, sem nos afastarmos de tudo o que é necessário fazer em nossa família ou profissão, possibilita um salto qualitativo na existência. Sabedoria para descobrir o sentido impresso por Deus em tudo o que existe. Ciência para conhecer de modo divino as realidades da própria natureza. Conselho para discernir os passos a serem dados. Fortaleza para elevar quem está caído e para dominar os impulsos que nos levam à agressividade. Piedade, para que o nosso coração seja “pio”, cheio de bondade em relação ao próximo, à sociedade e diante de Deus. Temor de Deus, para levá-lo sempre em conta e caminhar em sua presença. De propósito, o dom da Inteligência, também chamado de entendimento, é elencado por último, pela urgência com que precisa ser atuado em nossos dias. O Senhor nos diz: “Quando ele vier, o Espírito da Verdade, vos guiará em toda a verdade” (Jo 16,13). Com o dom do entendimento, o Espírito Santo infunde em nós a paixão pela verdade, em tempos de falsidade, corrupção e mentira deslavada. Deixar-se conduzir pelo Espírito é adquirir tal paixão, purificando-nos de todo engano!
Uma fonte preciosa de inspiração é um olhar aberto às pessoas e suas necessidades, especialmente à sensibilidade diante dos mais pobres e fracos. Não abafar a voz da consciência, que provoca a saída de nós mesmos para encontrar as estradas do bem. É necessário superar a insensibilidade corrente diante dos problemas e da violência, quando podemos fazer ouvido moco diante dos gritos dos mais sofredores. As muitas cenas do cotidiano, com as quais a miséria humana clama por serviço e caridade seja a voz do Espírito Santo, que nos conduz ao bem e suscita a atenção diante do próximo.
Uma das manifestações da ação do Espírito Santo na Igreja é a figura do conselheiro. Há pessoas colocadas por Deus em nossa vida que significam muito, pois nos oferecem, pela palavra e o exemplo, a preciosa ajuda para percorrer os caminhos suscitados pelo Espírito. Aqui entra, em primeiro lugar, o confessor, pela graça da escuta, as orientações e mais do que tudo o exercício do ministério sacramental do perdão. Diga-se o mesmo do ministério da direção espiritual. E existem também homens santos e mulheres santas que, com sua experiência de vida cristã madura cuja palavra e exemplo são sinais para a aventura da vida no Espírito, que não é privilégio de poucas pessoas, mas vocação universal à perfeição da vida cristã.
Deixar-nos conduzir pelo Espírito Santo significa ainda identificar suas inspirações que se transformam na diversidade de dons (Cf. 1 Cor 12,3-13). A beleza da Igreja se expressa na vocação específica de cada pessoa. Não há motivos para a inveja, ciúme ou comparações estéreis, já que todos têm muito a oferecer e são importantes para Deus. O apelo é que ninguém se esconda ou se omita, mas todos contribuam com aquilo que são e com o que têm para a edificação do Reino de Deus.
Para que nossa vida seja conduzida pelo Espírito Santo que sopra onde quer, só nos resta pedir insistentemente: “Ó Deus que, pelo mistério da Festa de Pentecostes, santificais a vossa Igreja inteira, em todos os povos e nações, derramai por toda a extensão do mundo os dons do Espírito Santo, e realizai agora no coração dos fiéis as maravilhas que operastes no início da pregação do Evangelho.
Canção Nova
Tomar distância das riquezas, porque estas nos foram oferecidas por Deus para doá-las aos outros. A este tema o Papa Francisco dedicou a missa celebrada na manhã de quinta-feira (24/04) na Casa Santa Marta.
Na memória de Nossa Senhora Auxiliadora, o Pontífice celebrou a missa na intenção do “nobre povo chinês”, que festeja a Virgem de Sheshan em Xangai.
Riqueza apodrecida
O Papa se inspirou Leitura de São Tiago apóstolo, que fala do salário não pago aos trabalhadores e o seu clamor que chega aos ouvidos do Senhor. Francisco destaca que Tiago usa expressões contundentes para falar aos ricos, sem meias palavras, condenando a “riqueza apodrecida”, como fez Jesus:
“Ai de vós ricos!”, é o primeiro ataque depois das Bem-aventuranças na versão de Lucas. “Ai de vós ricos!”. Se alguém fizer uma pregação assim, no dia seguinte nos jornais aparece: “Aquele padre é comunista!”. Mas a pobreza está no centro do Evangelho. A pregação sobre a pobreza está no centro da pregação de Jesus: “Bem-aventurados os pobres” é a primeira das Bem-aventuranças. E a carteira de identidade com a qual Jesus se apresenta quando volta ao seu vilarejo, a Nazaré, na sinagoga, é: “O Espírito está sobre mim, fui enviado para anunciar o Evangelho, a Boa Nova aos pobres, o alegre anúncio aos pobres”. Mas na história sempre tivemos esta fraqueza de tentar tirar esta pregação sobre a pobreza, acreditando se tratar de algo social, político. Não! É Evangelho puro, é Evangelho puro.
Dois senhores
Francisco convidou a refletir sobre o porquê de uma pregação assim “tão dura”. A razão está no fato de que “as riquezas são uma idolatria”, são capazes de “seduzir”. O próprio Jesus, explicou o Papa, disse que “não se pode servir a dois senhores: ou você serve a Deus ou às riquezas”: dá, portanto, uma “categoria de ‘senhor’ às riquezas, isto é, a riqueza “o pega e não o larga e vai contra o primeiro mandamento”, amar a Deus com todo o coração.
As riquezas vão também contra o segundo mandamento, porque destroem a relação harmoniosa “entre nós homens”, “estragamos a vida”, “estragamos a alma”. O Papa recordou a Parábola do rico – que pensava na “boa vida”, nas festas, nas roupas luxuosas – e do mendicante Lázaro, “que não tinha nada”.
Tiago sindicalista
As riquezas, reiterou, “nos levam embora a harmonia com os irmãos, o amor ao próximo, nos fazem egoístas”. Tiago reivindica o salário dos trabalhadores que cultivaram a terra dos ricos e não foram pagos: “alguém poderia confundir o apóstolo Tiago com um sindicalista”, afirmou Francisco. E na verdade, acrescentou, o apóstolo “fala sob a inspiração do Espírito Santo”. Parece uma coisa dos nossos dias, disse o Papa:
Também aqui, na Itália, para salvar os grandes capitais deixam as pessoas sem trabalho. Vai contra o segundo mandamento e quem faz isto: “Ai de vós!”. Não eu, Jesus. Ai de vocês que exploram as pessoas, que exploram o trabalho, que pagam de maneira informal, que não pagam a contribuição para a aposentadoria, que não dão férias. Ai de vós! Fazer “economias”, fraudar o que se deve pagar, o salário, é pecado, é pecado. “Não, padre, eu vou à missa todos os domingos e participo daquela associação católica e sou muito católico e faço a novena disso…”. Mas você não paga? Essa injustiça é pecado mortal. Você não está nas graças de Deus. Não sou eu que estou dizendo, é Jesus, é o apóstolo Tiago. Por isso as riquezas nos afastam do segundo mandamento, do amor ao próximo.
Rezar pelos ricos
As riquezas, portanto, têm uma capacidade que nos tornar “escravos”: por isso Francisco exorta a “fazer um pouco mais de oração e um pouco mais de penitência” não pelos pobres, mas pelos ricos.
Você não é livre diante das riquezas. Você para ser livre diante das riquezas deve tomar distância e rezar para o Senhor. Se o Senhor lhe deu riquezas é para distribui-las aos outros, para fazer em seu nome tantas coisas boas para os outros. Mas as riquezas têm esta capacidade de nos seduzir e nesta sedução nós caímos, somos escravos das riquezas.
Radio Vaticano