“A Igreja é feminina”, “é mãe” e quando falta esta identidade ela se torna “uma associação beneficente ou um time de futebol”; quando “é uma Igreja masculina”, infelizmente se torna “uma Igreja de solteirões”, “incapaz de amor, incapaz de fecundidade”.
Foi o que disse o Papa Francisco na missa celebrada nesta segunda-feira (21/05), na capela da Casa Santa Marta, dia em que a Igreja recorda a Beata Virgem Maria, Mãe da Igreja. Esta memória é celebrada pela primeira vez, este ano, após a publicação em 3 de março passado, do decreto “Ecclesia Mater” da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
O Papa Francisco quis que esta memória fosse celebrada na segunda-feira depois de Pentecostes para “favorecer o crescimento do sentido materno da Igreja nos pastores, nos religiosos e fiéis, como também a genuína piedade mariana”.
A Igreja é feminina
Na homilia, o Santo Padre ressaltou que nos Evangelhos, Maria sempre é indicada como “Mãe de Jesus”, não “a Senhora” ou “a viúva de José”: a sua maternidade percorre toda a Sagrada Escritura, desde a Anunciação até o fim. Uma especificidade que os Padres da Igreja entenderam rapidamente, bem que alcança e cinge a Igreja.
“A Igreja é feminina, porque é igreja, esposa: é feminina. É mãe, dá à luz. Esposa e mãe. E os Padres vão além e dizem: ‘A sua alma também é esposa de Cristo e mãe’. Nessa atitude de Maria, que é Mãe da Igreja, neste comportamento podemos entender essa dimensão feminina da Igreja que, quando não existe, a Igreja perde a verdadeira identidade e se torna uma associação beneficente ou um time de futebol ou qualquer outra coisa, mas não a Igreja.”
Somente uma Igreja feminina poderá ter “comportamentos de fecundidade”, segundo as intenções de Deus, que “quis nascer de uma mulher para nos ensinar este caminho de mulher”.
Não a uma Igreja de solteirões
“O importante é que a Igreja seja mulher, que tenha esta atitude de esposa e mãe. Quando nos esquecemos disso, é uma Igreja masculina, sem esta dimensão, e se torna tristemente uma Igreja de solteirões, que vivem no isolamento, incapazes de amor, incapazes de fecundidade. Sem a mulher, a Igreja não vai adiante, porque ela é mulher. Esta atitude de mulher vem de Maria, porque Jesus quis assim.”
A ternura de uma mãe
Uma das virtudes que mais distingue uma mulher, observou o Papa Francisco, é a ternura, como Maria que “deu à luz seu filho primogênito, o enfaixou e o colocou numa manjedoura”: cuidar, com mansidão e humildade são as qualidades fortes das mães”.
“Uma Igreja que é mãe segue o caminho da ternura. Conhece a linguagem da sabedoria do carinho, do silêncio, do olhar cheio de compaixão, que tem gosto de silêncio. E, também, uma alma, uma pessoa que vive essa pertença à Igreja, sabendo que também é mãe, deve seguir o mesmo caminho: uma pessoa afável, terna, sorridente e cheia de amor”.
Radio Vaticano
A partir desta segunda-feira (21/05), a memória da Beata Virgem Maria Mãe da Igreja entra no calendário litúrgico.
O Papa Francisco quis que essa data fosse celebrada na segunda-feira depois de Pentecostes, segundo o decreto “Ecclesia Mater” da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, datado 11 de fevereiro deste ano, dia em que a Igreja recorda Nossa Senhora de Lourdes.
Segundo o documento, o objetivo é “favorecer o crescimento do sentido materno da Igreja nos pastores, nos religiosos e fiéis, como também a genuína piedade mariana”.
A devoção do pontífice por Maria Mãe da Igreja não é nova, possui raízes profundas e mostra um comportamento filial claro em relação à Virgem.
Na casa da Mãe
Em sua viagem apostólica ao Brasil, para a Jornada Mundial da Juventude, em julho de 2013, no Santuário Nacional de Nossa Aparecida, o Papa Francisco disse que “a Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.”
Modelo de fé da Igreja
Na audiência geral de 23 de outubro daquele ano, Francisco refletiu sobre Maria como modelo de fé da Igreja “que tem como centro Cristo, encarnação do amor infinito de Deus”.
Ela quer trazer também a nós “a dádiva grandiosa que é Jesus; e com Ele nos traz o seu amor, a sua paz e a sua alegria. Assim a Igreja é como Maria: a Igreja não é uma loja, nem uma agência humanitária; a Igreja não é uma ONG, mas é enviada a levar a todos Cristo e o seu Evangelho; ela não leva a si mesma — seja ela pequena, grande, forte, ou frágil, a Igreja leva Jesus.”
E insiste: “Se, por hipótese, uma vez acontecesse que a Igreja não levasse Jesus, ela seria uma Igreja morta! A Igreja deve levar a caridade de Jesus, o amor de Jesus, a caridade de Jesus.”
Duas mulheres mães
Na Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, em 1° de janeiro, o Papa voltou ao nosso caminho de fé. Em 2014, ele especificou que está solenidade está “intrinsecamente ligada” a Maria “desde que Jesus, morrendo na cruz, nos deu Maria como Mãe”. A partir daquele momento, “a Mãe de Deus também se tornou nossa Mãe”.
Por sua vez, acrescentou em 28 de junho de 2014, saudando os jovens da Diocese de Roma em busca de sua vocação, reunidos na Gruta de Lourdes dos Jardins Vaticanos, “um cristão sem Nossa Senhora é órfão”, e a Igreja também.
“Duas mulheres” indicam “mães que desatam os nós da nossa vida, levando-os ao Senhor”, reiterou no Angelus de 1° de janeiro de 2016. Um conceito que ele aprofundou na missa no adro do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal, onde celebrou a missa de canonização dos Beatos Francisco e Jacinta Marto, no centenário das aparições da Bem-Aventurada Virgem Maria na Cova da Iria.
Imaculada Conceição
O segredo de Maria é “a Palavra de Deus”: no ano seguinte, no dia da Imaculada Conceição, em 8 de dezembro, Francisco explicou como Maria “tornou a sua vida linda”, “permanecendo com Deus, dialogando com Ele em toda circunstância”.
No habitual ato de veneração na Praça de Espanha, em Roma, Francisco agradeceu a Nossa Senhora pelo acompanhamento constante no “caminho das famílias, das paróquias, das comunidades religiosas” e também de quem trabalha, “dos doentes, idosos, de todos os pobres, de tantos imigrantes” provenientes de terras onde há “guerra e fome”.
No mesmo dia, a homenagem à Virgem da Medalha Milagrosa na Basílica de Sant’Andrea delle Fratte, situada no centro de Roma. Antes, porém, visitou o ícone de Nossa Senhora “Salus Populi Romani”, na Basílica de Santa Maria Maior.
O Papa Francisco retorna sempre à Basílica de Santa Maria Maior na ocasião de suas viagens e não só: no final de janeiro deste ano, para o traslado da imagem sagrada, ele explicou que “onde Nossa Senhora é de casa o diabo não entra” e o “turbamento não prevalece, o medo não vence”. Porque Maria “é como Deus nos quer, como quer a sua Igreja: mãe, terna, humilde, pobre de coisas e rica de amor, livre do pecado, unida a Jesus, que – ressaltou alguns dias antes no Dia Mundial da Paz – guarda Deus no coração e o próximo da vida”.
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